As (re)configurações subjetivas e identitárias de negros na Universidade: Fricções epistêmicas e aquilombamento acadêmico
Resumo
Considerando uma perspectiva decolonial, em que as universidades atuam como instituições colonialistas, essas se mostram como um lócus fértil para pesquisar a vivência de sujeitos que fogem do ideal eurocêntrico. Este artigo analisa os processos de subjetivação, sofrimento e resistência que perpassam as trajetórias de quatro estudantes negros de graduação e pós-graduação da Universidade de Brasília, pertencentes a diferentes coletivos negros. A pesquisa se inspira na epistemologia qualitativa e no método construtivo-interpretativo, e enfatiza a relação colaborativa na produção de conhecimento. Nos encontros entre pesquisador e sujeitos de pesquisa foram realizadas duas entrevistas semiestruturadas que geraram os seguintes indicadores: (1) racialização (crítica), (2) choque e sofrimento ao entrar na Universidade, (3) aquilombamento acadêmico, e (4) negras epistemologias, os quais apontam para centralidade dos coletivos negros em suas trajetórias, mediando sofrimentos e fortalecimentos. Em comum, as fricções trouxeram (re)configurações subjetivas e o aquilombamento acadêmico foi sinônimo de sobrevivência e saúde mental.
Palavras-chave
Racismo, Subjetividade negra, Saúde mental, Aquilombamento acadêmicoReferências
Araújo, Marivânia Conceição; Moreira, Liége Torresan; Felipe, Delton. (2020). Tra-jetórias Negras na Universidade: resistências, histórias e intelectualidades (1 ed.) UNIEDUSUL.
Balandier, Georges (1993). A noção de situação colonial. Cadernos de Campo (São Paulo 1991), 3(3), 107-131. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v3i3p107-131
Ballestrin, Luciana (2013). América Latina e o giro decolonial. Revista brasileira de ciência política, 11, 89-117. https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004
Bandura, Albert (1997). Autoeficácia: O exercício de controle. Freeman.
Bastos, João Luiz; Barros, Aluisio J. D.; Celeste, Roger Keller; Paradies, Yin & Faerstein, Eduardo. (2014). Age, class and race discrimination: their interactions and associations with mental health among Brazilian university students. Cadernos de Saúde Pública, 30(1), 175-186. https://doi.org/10.1590/0102-311X00163812
Bernardino-Costa, Joaze; Maldonado-Torres, Nelson & Grosfoguel, Ramón. (2018). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Autêntica.
Boas, Franz (2004). As limitações do método comparativo da antropologia; Raça e progresso. Em Celso Castro (Ed.), Antropologia Cultural (pp. 25-40). Jorge Zahar.
Carvalho, José Jorge de (2005). Usos e abusos da antropologia em um contexto de tensão racial: o caso das cotas para negros na UnB. Horizontes Antropológicos, 11(23), 237-246. https://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832005000100018
Carvalho, José Jorge de. (2011). Inclusão étnica e racial no Brasil: a questão das cotas no ensino superior. 2ª. Ed. Attar.
Carvalho, José Jorge de (2019). Encontro de saberes e descolonização: para uma re-fundação étnica, racial e epistêmica das universidades brasileiras. Em Bernardino-Costa, Joaze; Maldonado-Torres, Nelson & Grosfoguel, Ramon (Ed.), Decoloniali-dade e pensamento afrodiaspórico (pp. 79-106). Autêntica.
Carvalho, José Jorge de; da Silva (Makota Kidoiale), Cássia Cristina; Nolasco de Carvalho, Emílio & Lima da Costa, Samira. (2020). Sofrimento psíquico na univer-sidade, psicossociologia e Encontro de saberes. Sociedade e Estado, 35(1), 135-162. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202035010007
Carvalho, José Jorge de & Segato, Rita Laura (2002). Uma proposta de cotas para estudantes negros na Universidade de Brasília, (314). Departamento de Antropolo-gia, Universidade de Brasília.
Castro, Ricardo Dias, & Mayorga, Cláudia (2018). Classe Média Negra Universitária: por um projeto de sociedade afirmativa. Revista De Estudos E Pesquisas Sobre As Américas, 12(3), 175–203. https://doi.org/10.21057/repamv12n3.2018.29803
Connell, Raewyn. (2012). A iminente revolução na teoria social. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 27(80), 09-20. https://doi.org/10.1590/S0102-69092012000300001
Damasceno, Marizete Gouveia & Zanello, Valeska M. Loyola. (2018). Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(3), 450-464. https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017
Dussel, Enrique (1993). 1492– o encobrimento do outro: a origem do mito da mo-dernidade (Trad. Jaime A. Clasen). Vozes.
Dussel, Enrique. (2016). Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação. Sociedade e Estado, 31(1), 51-73. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100004
Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas (Tradução: Renato de Sil-veira). EDUFBA.
Fontoura, Loiraci Firmo da (2019). Ações afirmativas e cotas: um estudo de revisão bibliográfica. Universidade Federal do Pampa.
Freyre, Gilberto (2003). Casa-grande & senzala. Global Editora e Distribuidora Ltda.
Gonzalez, Lélia (1988). A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo bra-sileiro, 92(93), 69-82.
González Rey, Fernando Luis & Mitjáns Martínez, Albertina (2017). Subjetividade: teoria, epistemologia e método. Alínea.
Grosfoguel, Ramón (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidenta-lizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31(1), 25-49. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003
Guimarães, Antônio Sérgio (2003). Como trabalhar com “raça” em sociologia. Edu-cação e Pesquisa, 29(1), 93-107. https://doi.org/10.1590/S1517-97022003000100008
Guimarães, Antônio Sérgio (2016). Formações nacionais de classe e raça. Tempo Social, 28(2), 161-182. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2016.109752
Hall, Stuart (2006). A identidade cultural na pós-modernidade (Tradução Tomaz Ta-deu da Silva, 11. Ed.). DP&A
Laraia, Roque de Barros (2005). Da Ciência Biológica à Social: a trajetória da An-tropologia no século XX. Habitus, 3(2), 321-345. http://dx.doi.org/10.18224/hab.v3.2.2005.321-345
Lima, Stephanie (2020). “A gente não é só negro!”: interseccionalidade, experiên-cia e afetos na ação política de negros universitários. Tese de doutorado inédita, Universidade Estadual de Campinas. http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/346919
Lopes, Nei (2011). Bantos, Malês e Identidade Negra. Autêntica.
Mayorga, Cláudia, & de Souza, Luciana Maria (2012). Ação afirmativa na universi-dade: a permanência em foco. Revista psicologia política, 12(24), 263-281.
Mbembe, Achille (2013). África Insubmissa: Cristianismo, poder e Estado na socie-dade pós-colonial. Edições Pedago.
Mbembe, Achille (2014). A Crítica da Razão Negra. Antígona.
Mignolo, Walter (2003). Histórias locais-projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Ed. UFMG.
Ministério da Educação (2018). Conexões de Saberes. MEC Brasil. Recuperado de http://portal.mec.gov.br/conexoes-de-saberes
Nascimento, Abdias (1978/2016). O genocídio do negro brasileiro: Processo de um racismo mascarado. Editora Perspectiva
Nascimento, Abdias (1980/2020). O quilombismo. Editora Perspectiva.
Nogueira, Oracy (2007). Preconceito racial de marca e preconceito racial de ori-gem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo social, 19(1), 287-308.
Oliveira, Iara Andrade de; Maia, Luciana Maria & Lima, Tiago Jessé (2020). Cotas Raciais na Universidade: Uma Revisão Integrativa da Psicologia Brasileira. Revista Subjetividades, 20. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp1.e9337
Pereira, Bruna Cristina Jaquetto (2019). Dengos e zangas das mulheres-moringa: vi-vências afetivo-sexuais de mulheres negras. Tese de doutorado inédita, Universi-dade de Brasília. https://repositorio.unb.br/handle/10482/36124
Pierson, Donald (1971). Brancos e pretos na Bahia. Editora Nacional.
Prado, Marco Aurélio (2002). Da mobilidade social à constituição da identidade polí-tica: reflexões em torno dos aspectos psicossociais das ações coletivas. Psicologia em revista, 8(11), 59-71.
Quijano, Aníbal (1992). Colonialidad y Modernidad-racionalidad. Em Bonillo, Hera-clio (Ed). Los conquistados. Tercer Mundo Ediciones; FLACSO.
Rivera, Silvia Cusicanqui (2010). Ch’ixinakax utxiwa. Una reflexión sobre prácticas y discursos descolonizadores. Tinta Limón.
Santos, Alessandro de Oliveira dos, Schucman, Lia Vainer, & Martins, Hildeberto Vi-eira. (2012). Breve histórico do pensamento psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais. Psicologia: Ciência e Profissão, 32, 166-175. https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932012000500012
Schucman, Lia Vainer (2012). Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de Doutorado inédita, Universidade de São Paulo. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-21052012-154521/pt-br.php
Schucman, Lia Vainer, & Gonçalves, Mônica Mendes. (2020). Raça e subjetividade: do campo social ao clínico. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 72, 109-123. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1809-52672020000300009
Schucman, Lia Vainer; Mandelbaum, Belinda & Fachim, Felipe Luis (2017). Minha mãe pintou meu pai de branco: afetos e negação da raça em famílias interraciais. Revista de Ciências Humanas, 51(2), 439-455. https://doi.org/10.5007/2178-4582.2017v51n2p439
Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Edições Graal.
Tavares, Jeane Saskya Campos & Kuratani, Sayuri Miranda de Andrade. (2019). Ma-nejo Clínico das Repercussões do Racismo entre Mulheres que se “Tornaram Ne-gras”. Psicologia: Ciência e Profissão, 39. https://doi.org/10.1590/1982-3703003184764
Tempesta, Giovana Acácia; Araújo, João Paulo Siqueira & Loiola, Diego Rodrigues (2019) Revisitando conceitos antropológicos clássicos em um museu imaginado. Cadernos de Campo (São Paulo 1991), 28(2), 47-66. http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/155518
Universidade de Brasília (2019). Anuário Estatístico da UnB: 2019: período 2014 a 2018. Decanato de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional. http://dpo.unb.br/images/phocadownload/unbemnumeros/anuarioestatistico/AnuarioEstatistico2019.pdf
Wallerstein, Immanuel (2007). O universalismo europeu: o discurso do poder. Boi-tempo.
Zanello, Valeska (2018). Saúde Mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de subjetivação. Appris.
Publicado
Como Citar
Downloads
Copyright (c) 2022 João Paulo Siqueira, Rodrigo Maciel Ramos, Ana Lúcia Galinkin

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.