Quaderns de Psicologia 2025, Vol. 27, Nro. 1, e2143 | ISSN: 0211-3481 |
https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2143
“We Have so Much to Tell…”: Social Representations of Motherhood with Daughters/Sons LGBTQIAPNb+
Edsângela Maria Porto Palmeira Silva
Leogildo Alves Freires
Universidade Federal de Alagoas
Willamys da Costa Melo
Universidade Federal de Santa Catarina
Rodolfo Duarte da Silva
José Anderson da Costa Silva Filho
Universidade Federal de Alagoas
Heitor Marinho da Silva Araújo
Kingston University London
Resumo
Este estudo buscou compreender as representações sociais da maternidade entre mães de pessoas LGBTQIAPNb+, focando na experiência do coming out segundo a perspectiva dessas mães. Fundamentado na Psicologia Social Sociológica e na Teoria das Representações Sociais, com destaque para a Teoria do Núcleo Central, realizou-se uma pesquisa qualitativa descritiva. Foram coletados relatos de 14 mães cisgênero e biológicas, integrantes de um coletivo nacional de mães ativistas, por meio de grupos focais remotos (Google Meet e Zoom). Os dados, analisados via software Iramuteq, revelaram que a maternidade é permeada por crenças biologizantes, como o suposto instinto natural feminino para criar filhos. Assim, destaca-se a experiência solitária das mães no cuidado e desenvolvimento dos filhos ao longo da infância e adolescência, além da responsabilização e culpabilização atribuídas às mães pela orientação sexual ou identidade de gênero de seus filhos.
Palavras-chave: Representação social; Maternidade; LGBTQIAPNb+; Autoaceitação da sexualidade
Abstract
This study aimed to understand the social representations of motherhood among mothers of LGBTQIAPNb+ individuals, focusing on their experiences with coming out from the mothers’ perspective. Grounded in Sociological Social Psychology and the Theory of Social Representations, particularly the Central Core Theory, this research used a qualitative descriptive approach. Accounts from 14 cisgender biological mothers, all members of a national collective of activist mothers, were collected through remote focus groups on Google Meet and Zoom. Data analysis, conducted with Iramuteq software, revealed that motherhood is shaped by biologizing beliefs, such as the notion of a natural maternal instinct for raising children. The study highlights the solitary experience these mothers often face in caring for and supporting their children through childhood and adolescence, along with the social responsibility and blame placed on them regarding their children’s sexual orientation or gender identity.
Keywords: Social Representation; Motherhood; LGBTQIAPNb+; Sexuality Disclosure
A gravidez é um período significativo (Costa et al., 2017) na vida das mulheres, circunscrito por mudanças físicas, psicológicas e sociais (Moraes et al., 2023). Ser mãe e mulher na sociedade brasileira significa estar integrada a uma teia de relações sociais, historicamente construídas, em que questões de gênero, identidade, classe e raça estabelecem um contexto no qual emergem as experiências cotidianas e seu discurso e prática (Coutinho e Menandro, 2009).
Histórica e politicamente, a imagem da maternidade como algo sagrado foi sendo dissolvida no tecido social desde as produções da cultura popular, como séries de TV e dramas; em publicidades, reverbera-se no cotidiano por meio da linguagem (Wieler, 2023). Mesmo assim, a consolidação dos estereótipos faz com que pensemos que ser mãe envolve necessariamente a participação ativa dessas mulheres em um lugar de abnegação, muitas vezes, da vida pessoal e profissional, a fim de que seus filhos tenham uma criação percebida como digna e exitosa. Nesta direção, um levantamento da Data Popular (“37% dos brasileiros não…”, 2013), de 2013, aponta que 37% dos/as brasileiros/as não aceitariam ter um filho/a homossexual. Diante desse dado alarmante, nos debruçamos a investigar, com mães que participam de movimentos pró-diversidade, como o amparo à vivência da sexualidade e/ou identidade de gênero das crias vem se dando, tendo em vista que a proteção familiar, quando acontece graças à família nuclear, se relaciona a comportamentos associados ao humor positivo, o que contribui para uma sensação de bem-estar e para a saúde biopsicossocial de seus membros (Acuña e Lemos, 2020; Cardoso e Baptista, 2020). A partir dessas considerações iniciais, emerge a problemática central deste estudo: quais são as representações sociais de mulheres/mães sobre processo de coming out de suas/seus filhas/os?
O processo de coming out é compreendido como a revelação da orientação sexual e, ao ser inserido no contexto das relações familiares, torna-se ainda mais complexo para pessoas que não seguem a norma cisheteronormativa (Charbonnier e Graziani, 2016). Diversos obstáculos surgem ao se revelar essa identidade para a família, como a frustração por não corresponder às expectativas dos outros, a possibilidade de rejeição da sexualidade, o medo do afastamento por parte de familiares, amigos e da sociedade, entre outras questões. Esses impedimentos estão ancorados na matriz cisheteronormativa, que considera a homossexualidade oposta aos padrões de comportamento sexual e moral da família tradicional, pilares valorizados em uma sociedade patriarcal e higienista, que pouco se atenta aos grupos minoritários que desafiam essas estruturas (Miskolci, 2015; Nascimento e Scolini-Comin, 2018).
De acordo com Leogildo Alves Freires et al. (2022), a utilização do termo grupos minorizados é adequada devido à sustentação de que determinados grupos — como o LGBTQIAPNb+1 — não são necessariamente minoritários em termos de números, mas, sim, socialmente, como consequência da falta de acesso a recursos para lidar com as adversidades e assegurar uma vida digna e de cidadania aos seus membros. Destaca-se que os estudos acerca dos grupos minorizados de sexo e gênero diversos se configuram, hoje, como um campo consolidado de pesquisa, adquirindo cada vez mais espaço no âmbito acadêmico e legitimidade junto aos movimentos sociais (Lomando et al., 2011).
Nesse contexto, a pandemia de Covid-19 intensificou os desafios enfrentados pelos grupos minorizados. O isolamento social resultou em uma convivência mais excessiva com a família, o que, para muitos, significou permanecer em um ambiente hostil, gerando impactos significativos na saúde mental (Gato et al., 2020). Esse contato mais frequente e potencialmente conflitante aponta para efeitos que ainda necessitam de investigação, uma vez que o debate, sustentado por evidências científicas, permanece incipiente na literatura sobre o tema. Por isso, torna-se importante examinar, na produção acadêmica, os estudos que abordam especificamente o papel das mães de pessoas LGBTQIAPNb+ e suas experiências. Em particular, tais estudos no Brasil destacam o ativismo materno como forma de enfrentamento ao preconceito e garantia dos direitos dos/as filhos/as. Na pesquisa realizada por Maria Alice Magalhães da Silva Batista (2021), ao entrevistar mães do coletivo Mães pela Liberdade, observou-se que o acolhimento familiar transforma o coming out em um ato político. Mônica Lemes Neiva (2019) explorou a realidade de discriminação vivenciada pelos/as filhos/as LGBTQIAPNb+, abordando como o coletivo Mães pela Diversidade se compromete com a proteção dos direitos dessa população.
A relação entre acolhimento e ativismo dessas mães é um aspecto relevante apontado nas pesquisas. Sandra Teixeira da Fonseca (2021) revelou, por meio de entrevistas com mães de pessoas transexuais, que essa compreensão se constrói através de redes afetivas e da constante busca por informações sobre identidade de gênero, fortalecendo a luta dessas mães pelos direitos dos/as filhos/as. De maneira similar, Kaito Campos de Novais (2021) examinou o ativismo materno nesse coletivo, apontando como a busca por justiça concebe apoio mútuo na luta contra a LGBTQIAPNb+fobia. Na mesma direção, Arthur Leonardo Costa Novo (2021) e Kaito Campos de Novais (2017) destacam que o movimento dessas mães em grupos de apoio redefine suas relações familiares, o conceito de maternidade e suas identidades pessoais, incorporando saberes feministas e humanitários no grupo.
Diante dos estudos apresentados, ressalta-se a importância de mais pesquisas, levantamentos de dados e problematizações sobre a experiência dessas mulheres que também passam por esse processo de coming out no território brasileiro. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo conhecer as representações sociais da maternidade de mulheres (mães) que tiveram suas/seus filhas/os assumidas/os LGBTQIAPNb+, como foco na experiência do coming out. Para isso, contou-se com o aporte teórico da Psicologia Social Sociológica, em específico da Teoria do Núcleo Central (TNC), que integra o contexto da Teoria das Representações Sociais. Abordar este fenômeno social na perspectiva das mães expande de forma crítica, científica e politicamente engajada a literatura sobre essas maternidades contranormativas e traz contribuições relevantes para o tema, ao dar-se espaço para o relato dessa população em primeira pessoa, num país marcado por uma estrutura social colonialista, machista, patriarcal, sexista, racista, capacitista e LGBTQIAPNb+fóbico.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e exploratório com aporte da Teoria das Representações Sociais. O método qualitativo foi aplicado por viabilizar o trabalho com o complexo de significados e os aspectos mais subjetivos das participantes. Permite, assim, a descrição dos costumes, crenças e linguagem de algum grupo social (Moura et al., 2021).
Contou-se com a parceria de um coletivo de mães ativistas, uma Organização Não Governamental (ONG) brasileira que tem o objetivo de acolher principalmente figuras parentais (mães, pais, familiares e pessoas cuidadoras) com filhas/os/es da população LGBTQIAPN+. Participaram da pesquisa 14 mulheres cisgênero e mães biológicas, dentre as quais 12 tinham apenas uma/o filha/o que se identificava como pertencente à comunidade LGBTPQIAPN+ e duas mães que possuem duas/dois filhas/os em sua formação familiar de grupos sexo e gênero diversos.
Essas/es filhas/os estavam distribuídas/os entre 11 transexuais, 4 gays e 1 bissexual. Quanto às mães participantes, a média de idade foi de 36 anos, dentre as quais a mais nova possuía 28 anos e a mais velha 57 anos. Elas se distribuem entre brancas e negras, sendo a maioria autodeclaradas brancas (78,57%) e 21,43% autodeclaradas negras. Em relação ao estado civil, o grupo estava distribuído igualmente entre casadas e divorciadas, representando 37,5% cada; 18,8% estavam solteiras e 6,2% eram mães solo (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição das mulheres/mães participantes e seus/as filhos/as
Participante |
Raça/cor |
Idade |
Estado civil |
Filhas(os/es) |
Mãe 1 |
Negra |
57 |
Divorciada |
1 Gay |
Mãe 2 |
Branca |
54 |
Casada |
1 Mulher Trans |
Mãe 3 |
Branca |
52 |
Casada |
1 Mulher Trans |
Mãe 4 |
Branca |
44 |
Divorciada |
1 Mulher Trans |
Mãe 5 |
Branca |
57 |
Divorciada |
1 Gay |
Mãe 6 |
Branca |
38 |
Casada |
1 Mulher Trans |
Mãe 7 |
Branca |
48 |
Divorciada |
1 Homem Trans 1 Bissexual |
Mãe 8 |
Branca |
55 |
Mãe Solo |
1 Homem Trans |
Mãe 9 |
Branca |
38 |
Solteira |
1 Gay |
Mãe 10 |
Branca |
35 |
Solteira |
1 Mulher Trans 1 Bissexual |
Mãe 11 |
Branca |
53 |
Divorciada |
1 Mulher Trans |
Mãe 12 |
Branca |
52 |
Divorciada |
1 Mulher Trans |
Mãe 13 |
Negra |
43 |
Casada |
1 Mulher Trans |
Mãe 14 |
Negra |
50 |
Casada |
1 Gay |
Para a presente pesquisa, foram realizadas rodas de conversa para mineração de dados. Tal recurso se baseia na horizontalização das relações, pela qual as participantes se inserem como atrizes sociais críticas e reflexivas diante da realidade (Sampaio et al., 2014). Desta forma, para além de uma escolha metodológica, as rodas de conversa também contribuem como possibilidade de construção de canais de diálogo, promovendo um fortalecimento pessoal das participantes a partir do reconhecimento de grupo (Costa et al., 2010).
Considerando tais potencialidades, o uso dessa ferramenta também objetivou a formação de um dispositivo que atuasse como promoção de bem-estar, em benefício à saúde mental das participantes, pois a integração com grupos de pessoas e estabelecimento de vínculos são fatores favoráveis para o bem-estar subjetivo (Passareli e Silva, 2007), permitindo a disponibilidade e o fácil acesso aos conteúdos abordados segundo os eixos temáticos planejados.
Sendo assim, foram realizados quatro encontros, por meio das plataformas Google Meet e Zoom, com duração média de duas horas. Optou-se pela modalidade remota, em função das medidas sanitárias estabelecidas pela pandemia de Covid-19, entre os anos de 2020 e 2022, período desta coleta de dados. Todo o material foi captado através de gravação de áudio, de natureza confidencial e sem qualquer identificação individual. Vale ressaltar que toda a pesquisa foi detalhadamente explicada e eventuais dúvidas foram esclarecidas. Em seguida, foi solicitada a permissão para a gravação dos encontros, que foi posteriormente transcrita para análise.
O procedimento de condução dos encontros ocorreu com o auxílio de uma psicóloga e pesquisadora e da utilização de fragmentos de textos que eram disponibilizados com antecedência às participantes, para que pudessem servir como disparadores (textos sobre as vivências de mães com filhas/filhos LGBTQIAPN+, suas experiências maternas na sociedade contemporânea e questões semiestruturadas a partir dos textos disparadores). Para além disso, era de entendimento geral entre a equipe de pesquisa que os fragmentos textuais indutores proporcionavam múltiplos significados e disponibilizam a capacidade de articular o contexto sócio-histórico com suas experiências. Assim, esses termos atuam como mobilizadores de significado semântico diretamente relacionados com possíveis representações sociais.
Os dois primeiros encontros tiveram como objetivo a apresentação das participantes, bem como o compartilhamento de suas vivências a partir do processo de coming out de suas/seus filhas/os. O terceiro encontro teve como temática a maternidade como discussão central, objetivando o compartilhamento das narrativas que essas mulheres-mães carregam consigo. Por fim, o quarto encontro, que trouxe a saúde mental e a pandemia, em que as participantes puderam compartilhar a experiência do isolamento social com suas/seus filhas/os e se esse momento delicado impactou ou não na relação interpessoal desses sujeitos.
Cabe ressaltar que todas as mulheres participaram de maneira voluntária e seguindo o disposto nas resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). As participantes foram solicitadas a documentar seu consentimento, a partir do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Somado a isso, a presente proposta de pesquisa possui a aprovação no comitê de ética em pesquisas com seres humanos da Universidade Federal de Alagoas, através do parecer 5.128.115 - CAAE: 52069221.4.0000.5013.
Após a transcrição dos encontros das rodas de conversa, as informações obtidas foram transcritas e importadas para o editor de texto OpenOffice Writer, em que foram criadas as linhas de comando para cada um dos três corpora utilizados na presente pesquisa. O material coletado, por sua vez, foi analisado no software Iramuteq (Interface De R Pour Les Analyses Multidimensionnelles De Textes Et De Questionnaires; Ratinaud, 2009), ancorado no Software R (R Development Core Team, 2012) e na linguagem python de programação (www.python.org). Este é um software livre para análises, a plataforma possibilita diferentes tipos de manuseios de dados textuais, desde as mais simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequência de palavras), até análises multivariadas, como sugerem Brigido Vizeu Camargo e Ana Maria Justo (2013). Nessa perspectiva, os autores propõem que sua utilização pode trazer contribuições aos estudos em ciências humanas e sociais, que possuem o conteúdo simbólico proveniente dos materiais textuais como fonte importante de dados de pesquisa, podendo levar à melhor interpretação dos dados.
Com a finalidade de visualizar, de maneira ampla, a representação social dos significados da maternidade com filhas/os assumidas/os LGBTQIAPNb+, foi realizada a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) pelo método de Reinert com os corpora dos encontros de maneira individual. Essa análise possibilita separar o corpus em classes de palavras. Cada uma delas é composta por um conjunto de vocábulos que se relacionam entre si e se distinguem das demais. Portanto, a partir da CHD, os segmentos de textos e seus vocábulos podem ser correlacionados, formando um esquema hierárquico de classes de vocabulário.
Ao contar desta análise, o/a pesquisador/a pode inferir o conteúdo do corpus, compreender os grupos de discursos presentes nele e nomear as classes, dando, assim, uma ideia aproximada dos termos mais repetidos para o campo semântico. A CHD foi realizada com plotagem em nuvem de sentenças para uma rápida observação das palavras que compõem cada classe, com base na sua frequência, uma apresentação graficamente organizada de seu conteúdo. O critério de exclusão para essa leitura foi a retirada dos advérbios (Camargo e Justo, 2013).
Objetivando facilitar a exposição dos núcleos das representações sociais dessas mães, este tópico foi organizado em eixos temáticos derivados dos corpora temáticos. Assim, o primeiro eixo, representa o material obtido no Corpus A, foi intitulado de Quem pariu Mateus que balance!, momento em que as participantes puderam reconhecer umas às outras como mães e compreender a trajetória com suas/seus filhas/os como pessoas LGBTQIAPN+.
O segundo, representante do conteúdo do Corpus B, denominado de Ser mãe é padecer no paraíso, foi composto pela discussão sobre a função da mulher/mãe na relação com suas/seus filhas/os LGBTQIAPN+. Mediante o percurso construído, o encontro serviu para que as participantes expusessem a forma como se sentem diante da maternidade nesse contexto. O último, Corpus C, ficou descrito pelo título Pandemia e (re)adaptação e refere-se ao terceiro encontro. Considerando que esse estudo foi conduzido durante a pandemia, reservou-se um encontro para que as participantes trouxessem relatos sobre o período de isolamento social das famílias.
No cotidiano, não é incomum que o comportamento das/os filhas/os seja atribuído como responsabilidade da mulher pelo ato de cuidar, cabendo a ela todas as providências necessárias (Silva et al., 2021). A expressão que dá título ao eixo Quem pariu Mateus que balance é uma reprodução do discurso sexista que atribui à mulher/mãe todo o trabalho que envolve o cuidado e educação de uma criança (Sampaio, 2021).
Nessa amostra, foram obtidas 16 Unidades de Contexto Iniciais (UCI) separadas em 312 Unidades de Contexto Elementares (UCE), das quais emergiram 10 824 ocorrências (palavras, formas ou vocabulários), sendo 1650 palavras distintas e 871 com uma única ocorrência. Após a execução da CHD, foi obtida a separação de seu conteúdo em 4 classes semânticas, resultante do aproveitamento de 228 segmentos de texto (73,08%) do conteúdo total da amostra (Figura 1). Dentre as classes, obtivemos as seguintes distribuições: a classe 1 concentrou 66 UCEs (28,95%), a classe 2 com 50 UCEs (21,93%), a classe 3 com 47 UCEs (20,61%), e classe 4 com 66 UCEs (28,95%).
Figura 1. CHD — Corpus “Quem pariu Mateus que balance”
A classe 1, denominada de O coming out, apresenta em maior frequência as palavras “pai”, “idade”, “casa”, “dia” e “namorado” respectivamente. As mães buscaram descrever momentos associados à descoberta da orientação sexual e/ou identidade de gênero das/os filhas/os e/ou momento do surgimento da/o primeira/o namorada/o, além da postura que envolve a figura paterna.
No fragmento, observa-se que a representação da mulher/mãe está intrinsecamente ancorada na responsabilidade, frente ao processo de resolutividade de possíveis problemas relativos à maternidade. Observa-se o comportamento da figura paterna presente na fala a seguir: “o apoio do pai foi bem pouco, só financeiro mesmo… eu já sabia que não ia ser fácil, já estava preparada e sabia que eu ia ter que resolver isso” (Mulher cis branca, 44 anos, mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022).
Na medida em que a identidade de gênero e sexualidade é revelada pela prole, os pais apresentam maior dificuldade face às mães em aceitar a orientação sexual dos filhos. Esse comportamento é resultado de um processo histórico que limita a figura paterna à masculinidade, ao passo que as/os filhas/os violam suas visões de mundo (Kranz, 2021). O manejo das relações familiares frente a esse aspecto suscita pontos de vista divergentes quanto ao processo de compreensão sobre a orientação sexual e/ou identidade de gênero da/o filha/o (Novo, 2023).
A classe 2, denominada de Visão da sociedade, reúne as palavras “culpa”, “família”, “pequena”, “perceber” e “preparar”, respectivamente. As mães compartilham momentos posteriores ao coming out das/os filhas/os, destacando o contraste de sentimentos desencadeados perante a nova realidade, agora com filhas/os LGBTQIAPN+, tanto no seio familiar quanto nos espaços de convivência social.
Apesar do sentimento de culpa ocupar um espaço ativo no processo de representação da maternidade, quando se coloca em evidência a questão da sexualidade de suas/seus filhas/os, essa responsabilidade não entra em evidência. As participantes não se dizem causadoras da condição de gênero ou orientação sexual das/os filhas/os:
Culpa, não senti, em nenhum momento desse processo, não me senti culpada por ele ser trans. Culpa nenhum momento. (Mulher cis, negra, 48 anos, mãe de um filho trans e filha bissexual, grupo focal, abril de 2022)
Mas assim, não sinto essa culpa que a sociedade quer jogar em cima da gente, das mães, não me sinto, eu acho que pela minha criação. (Mulher cis branca, 52 anos, mãe de uma filha trans, grupo focal, abril de 2022)
Torna-se evidente que a culpa internalizada pode resultar dos comportamentos e atitudes que levam as mulheres/mães a questionar o papel biológico imposto pela dinâmica sociocultural, exigindo que elas estejam atentas a todas as violações de direitos que suas/seus filhas/os possam enfrentar. Nesse contexto, podemos mencionar “o mito do amor materno” abordado por Elisabeth Banditer (1985), que evidencia a construção histórica da figura da mãe perfeita e como isso desarticula as relações igualitárias de gênero.
Na classe 3, as falas destacam Aspectos emocionais com a frequência das palavras “medo”, “vergonha”, “acontecer”, “aceitar” e “sentimento”, que apresentam maior repetição no conteúdo total desta classe. Neste conjunto, as mulheres/mães compartilharam as emoções desencadeadas pela relação com suas/seus filhas/os. A experiência da maternidade com filhas/os LGBTQIAPN+ mobiliza sentimentos, expectativas e crenças, assim como no seu entorno familiar. O “medo” se apresenta como o termo mais arraigado para explicar a função justificadora composta no sistema central destas mulheres/mães.
Dentre os aspectos que envolvem esse sentimento, está a visão social, fundamentada na vergonha que a família pode enfrentar, uma vez que os familiares, sobretudo, as/os responsáveis, demonstram preocupações acerca da vida das/os filhas/os, se vendo encurraladas/os por receber aquilo que é socialmente (mal)dito sobre a experiência LGBTQIAPN+. A fala, a seguir, transmite sentimentos conduzidos por preconceitos internalizados frente à condição cisheterormativa:
E outro que eu anotei é também o medo do julgamento do outro. O que as pessoas estão pensando… era vergonha, porque ela chegou pequena aqui no prédio e assim, tem novatos no prédio, era vergonha!… as pessoas estão comentando, o que eles estão achando, e eu sinto vergonha disso.… eu acho que tem o medo da violência, mas também tem o meu preconceito. Tem a minha vergonha também. (Mulher cis branca, 54 anos, mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022)
Não obstante esse convívio com o preconceito, a classe 4, denominada de Desinformação, concentra falas relacionadas à busca por conhecimento dessas mulheres. A classe destaca as palavras “tirar”, “médico”, “entender identidade” e “nome social”. A relação entre o preconceito e desinformação deriva da consideração de temas como sexualidade e gênero como tabus na sociedade, o que torna complexa a discussão desses temas (Freitas et al., 2021; Nascimento e Scorsolini-Comin, 2018). Nos trechos coletados dessa classe, é possível observar frases como:
Agora falou que era trans, porque ela começou em dezembro me falando que era homossexual depois que era não binário e depois que era trans, que até então a gente não entendia o que era o não binário e trans… primeiro momento que observei, é não ter corrido atrás para entender o que estava acontecendo com a minha criança. (Mulher cis, branca, 58 anos, mãe de filha trans, grupo focal, abril de 2022).
Não sabia o que era uma pessoa trans, não tinha vivência nenhuma, era uma coisa assim distante da minha realidade, eu fiquei pasma. (Mulher cis, branca, 54 anos, mãe de filha trans, grupo focal, abril de 2022).
Como observado nas falas supracitadas, o processo de coming out parece atravessar momentos em que a desinformação permeia as experiências de formas inusitadas. Ainda que as mães participem integralmente do cuidado, a construção da identidade das/os filhas/os segue um curso próprio no processo de desenvolvimento (Lima, 2019). Nesse contexto, ao passo que são identificadas questões de gênero e identidade sexual, as mães buscam compreender todos os aspectos que envolvem a maternidade com filhas/os LGBTQIAPN+.
Este tópico centraliza a discussão sobre o papel da mãe na relação com seus filhos LGBTQIAPN+ e as cobranças existentes perante as funções da maternidade. A partir dessa amostra, foram obtidos 39 textos, separados em 243 segmentos de texto (ST), dos quais emergiram 8.213 ocorrências (palavras, formas ou vocabulários), sendo 1456 palavras distintas e 802 com uma única ocorrência.
Após a CHD deste eixo, foi obtida a separação de seu conteúdo em 4 classes de palavras, resultante do aproveitamento de 243 segmentos de texto (75,72%) do conteúdo total da amostra (Figura 2). Dentre as classes, obtivemos as seguintes distribuições: a classe 1 concentrou 44 UCEs (23,91%), a classe 2 com 67 UCEs (36,41%), a classe 3 com 36 UCEs (19,57%), e a classe 4 com 37 UCEs (20,11%).
Figura 2. CHD — Corpus “Ser mãe é padecer no paraíso”
A escolha do ditado popular Ser mãe é padecer no paraíso se insere nesse contexto pela maternidade estar associada a um sofrimento embutido, recompensado pela felicidade plena. Esse ato de sacrifício é observado pelo movimento de abnegação de si para exercer uma prática de cuidado do outro, inscrevendo-se no âmbito de discursos e práticas que fomentam a romanização e idealização da maternidade (Pereira e Tsallis, 2020).
A classe 1, denominada Expectativas maternas, evidencia as palavras “querer”, “expectativa”, “LGBT”, “falar” e “filha/o”, respectivamente. Essa classe versa sobre as expectativas geradas frente às idealizações maternas. O fragmento abaixo aborda as expectativas vivenciadas desde a gestação até a fase adulta:
Eu queria falar de expectativas importantes, porque acho que sempre tem aquele padrão. Ah, é uma menina! então provavelmente vai casar, vai ter filho… mas a partir do momento que eu percebi que era uma criança LGBT tudo isso foi por água abaixo … é uma tristeza porque não existe aquele menino que você idealizou, aquele menino que você deu o nome, aquele menino que não existe mais. (Mulher cis, branca, 38 anos mãe de filha não binária, grupo focal, abril de 2022)
Observamos que as representações sociais de gênero operam na subjetividade da relação mãe x filha/o de modo que a orientação sexual e/ou identidade de gênero destoante do esperado não é sequer cogitada (Hauer e Guimarães, 2015). Não obstante, a descoberta da sexualidade e/ou do gênero das/os filhas/os, por parte dessas mães, traz ainda à luz os anseios projetados ao longo da trajetória de vida delas/es, uma vez que esta prole transgride o padrão estabelecido como ideal e esperado.
A classe 2 foi chamada de Cobranças internas. Essa classe apresentou maior frequência das palavras “sentir”, “dar”, “sociedade”, “contar” e “trabalhar”. Expõe como essas mulheres e hoje mães encaram suas vivências na condição feminina e/ou materna. As falas, a seguir, expressam como a representação de mulher/mãe construída historicamente reflete nas relações inter e intrapessoais:
A cobrança é que eu tenho que dar exemplo em tudo, eu tenho que dar conta de ser a mãe, de ser a profissional, de trabalhar, de trazer o sustento para casa, está sempre sorrindo, de estar com filho saudável, está com filho inteligente, de colocar o filho na faculdade, e outra coisa, se pensarmos em namorar, se pensamos em ser mulher, a cobrança ainda maior. (Mulher cis, branca, 34 anos, mãe de filho gay)
De que eu teria que dar conta de tudo, de ter que ser, e ter que encarar o personagem da Mulher Maravilha, para dar conta de tudo, para dar conta de educar, dar conta de sustentar, e dar conta de enfrentar tudo. (Mulher cis, branca, 34 anos, mãe de filha bissexual e filha transexual, grupo focal, abril de 2022)
As falas enfatizam como as funções da maternidade impactam na vivência materna e no bem-estar. Como norma social, a maternidade se expressa como uma experiência paradoxal, pois as pressões sociais vêm junto à prática de cuidado, afeto e realização (Badinter, 1985). Afinal, neste universo complexo da representação construída para a mulher, contrapor a normalidade representa um eterno conflito entre os próprios anseios e as exigências da sociedade (Quelotti e Ribeiro, 2022).
A classe 3, nomeada de Cobranças externas, ressalta esse acúmulo de atividades em relação as/os filhas/os, com destaque para as palavras “dia”, “comida”, “solo”, “hora” e “odiar”. As palavras discorrem o peso das cobranças externas, envolvendo os aspectos de gênero que reforçam a construção de contextos representacionais específicos, como pode ser observado nos fragmentos de texto encontrados neste tópico:
A sociedade cobra uma carga muito pesada. (Mulher cis, branca, 58 anos, mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022)
A sociedade nos cobra muito, e eu sinto um peso maior apenas por ser mulher, está nos mínimos detalhes, acho que é isso é estrutural da nossa sociedade, por exemplo, desde olhar se tem lanche na lancheira, se está todos os cadernos na mochila, esses detalhes do dia a dia que estão sobre a mulher, você pode ter o melhor marido do mundo, mas a carga sempre vai estar maior com a mulher… porque eu amo minhas filhas, mas se me desse meia hora hoje, eu não teria nenhuma das duas, e não tem nada a ver com amor, e eu sou julgada por conta disso. (Mulher cis, branca, 38 anos, mãe de filha não binária, grupo focal, abril de 2022)
Observa-se nas falas que a maternidade perpassa por estruturas que oprimem e produzem sofrimento. Porém, esse sofrimento parece, às vezes, ser manifestado com naturalidade no dia a dia dessas mulheres/mães. Naturalizar e aceitar sua condição de mulher/mãe frente à opressão parecem se constituir como aspectos do sistema periférico que possibilitam a adaptação à realidade, no intuito de proteger o núcleo que compõe sua representação.
Dando continuidade com a classe 4, intitulada Rede de apoio, as palavras “informação”, “procurar”, “tentar”, “buscar” e “namorar” destacam-se. O conteúdo relacionado nos fragmentos de textos aborda comportamentos realizados pelas mães, no intuito de buscar a compreensão do que estava sendo vivenciado com sua/seu filha/o e no seio familiar. Neste sentido, essas mulheres/mães procuram formar redes de apoio para si e suas/seus filhas/os (Col Debella e Gaspodini, 2021). Os comportamentos expostos nas falas tratam da condução das participantes na busca de redes de apoio, percebidas nas falas:
Quando eu soube que minha filha era trans, eu fui buscar mais informação, eu fui procurar um grupo de apoio, eu ouvi seminários, vídeos do YouTube, de relatos de depoimentos, e eu tô sempre tentando aprender de alguma forma… atitudes foram essas, de buscar mais conhecimento, através de tudo que me indicam, filme, documentário, eu tô sempre tentando, seguindo mais pessoas nas redes sociais, mais mulher trans, homens trans. (Mulher cis, branca, 58 anos mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022)
Eu fui me informar, me informar, informar, informar, consumir muita informação, estudei muito a respeito, eu vi muito vídeo, de li muita coisa, procurei muito informação… houve essa mudança, passei a militar na área, de fazer parte de círculos LGBT, mas não era uma bandeira que eu carregava, então isso a militância veio com o meu filho e com a minha filha. (Mulher cis, branca, 48 anos, mãe de filha bissexual e um transexual, grupo focal, abril de 2022)
Essas mães parecem ser fundamentalmente diferentes das outras mães na prática, sendo mais ativas na perspectiva da proteção das/os filhas/os. Desta forma, na perspectiva socio-histórica, a atenção na função materna apresenta-se em cenários específicos e de forma multifacetada (Badinter, 1985). Thassia Souza Emídio e Thaís Gigek (2019) evidenciam que, na atualidade, o destino feminino e a maternidade não são sinônimos, mas o dever social atribuído à mulher/mãe resiste ao retrospecto histórico.
O material reunido neste tópico foi coletado no encontro com a temática focada nas experiências do contexto da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, o qual demandou isolamento social, intensificando a convivência familiar (Linhares et al., 2021). De acordo com as mães participantes, o estreitamento de laços promoveu a experiência do coming out de suas/seus filhas/os e contribuiu para o processo de aceitação e/ou ressignificação dessas mulheres/mães.
Nesta amostra, foram obtidos 30 textos, separados em 238 segmentos de texto (ST), dos quais emergiram 8211 ocorrências (palavras, formas ou vocabulários), sendo 1545 palavras distintas e 847 com uma única ocorrência. Após a CHD deste eixo, foi obtida a separação de seu conteúdo em 4 classes de palavras, resultante do aproveitamento de 168 segmentos de texto (70,59%) do conteúdo total da amostra (Figura 3). Dentre as classes, obtivemos as seguintes distribuições: a classe 1 concentrou 32 UCEs (19,05%), a classe 2 com 47 UCEs (27,98%), a classe 3 com 43 UCEs (25,60%) e a classe 4, com 46 UCEs (27,38%).
Figura 3. CHD Corpus - “Pandemia e (re)adaptação”
A classe 1 foi denominada de Reconhecimento e evidencia as experiências compartilhadas pelas mães que passavam pelo processo da convivência e as mudanças ocasionadas pelo período pandêmico. Com falas que remetem ao convívio, as mudanças de suas/seus filhas/os após o coming out foram abordadas no trecho:
Eu tinha a companhia, do meu filho, fazíamos mil programações junto, ele se maquiava, fizemos festa, conversamos, assistimos filmes juntos, os 60 dias eu e meu filho passamos totalmente isolados em casa, não saía para absolutamente nada… período para matar a saudade. (Mulher cis, negra, 57 anos, mãe de filho gay, grupo focal, abril de 2022)
Juntamente a esse processo de reconhecer as mudanças em suas/seus filhas/os, algumas mulheres também relatam período de reflexão sobre a própria maternagem, uma vez que, diante das descobertas, as emoções parecem se intensificar, como segue a fala a seguir:
Eu fui uma mãe tão egoísta briguei com ele, fui incompreensiva, coloquei os meus problemas, pensamentos preconceituosos e medrosos com aquela desculpa de que eu queria protegê-lo da sociedade e da opinião alheia. (Mulher cis, branca, 55 anos, mãe de filho gay, grupo focal, abril de 2022)
A classe 2, denominada Reconexão, destaca as palavras: momento, filhas/os, mãe e bom. Em meio à crise causada pela pandemia, o intenso convívio familiar repercutiu em situações de desinteligências (Tartuce e Tassainari, 2022). Desse modo, as mães precisaram priorizar o papel de proteção e amparo à sua prole, exercitando a compreensão com o intuito de promover o acolhimento. Os trechos abaixo evidenciam como o isolamento social foi importante e gerou benefícios mútuos para mãe e filha/o:
O momento da pandemia foi quando eu pus meu filho contra parede para se revelar, porque que moramos só nós dois aqui em casa… e foi o momento angustiante a princípio, angustiante os dois dentro do apartamento, e aquela tensão, e eu ficava com meu coração assim, doída porque eu estava com aquela reação, e queria ao mesmo tempo acolhê-lo, quando eu cheguei para conversar com ele, ele disse que estava tudo bem, eu disse que ele continuaria sendo meu filho, que estava tudo bem, que íamos enfrentar isso tudo juntos, e que estava tudo bem, ali eu vi meu filho realmente desabrochar. (Mulher cis, branca, 38 anos, mãe de filho gay, grupo focal, abril de 2022)
Apesar do momento difícil que nós vivemos, foi um momento que me deixou feliz pelo fato de que eu pude ver no meu filho o homem que ele se tornou e temos um relacionamento excelente. (Mulher cis, branca, 57 anos, mãe de filho gay, grupo focal, abril de 2022)
A classe 3 foi denominada de Saúde mental e pandemia e destaca as contradições materiais presentes nesse período histórico. As palavras “começar”, “sair”, “pandemia”, “casa” e “apoio” aparecem em destaque. Este tópico retoma aspectos da necessidade de apoio, prejuízos na saúde e aspectos emocionais desencadeados por meio do contexto pandêmico, como pode ser observado no exemplo:
Minha filha não estava bem dentro de todo esse contexto por conta da pandemia e por outras situações, nesse meio tempo foi diagnosticada com uma disforia de imagem e encaminhada para um psiquiatra isso ainda em 2020. (Mulher cis, branca, 44 anos, mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022)
Por conclusão, a classe 4 foi chamada de Resistência, pois aglomera relatos de resistência tanto diante do momento pandêmico quanto do processo de compreensão e suporte às/aos suas/seus filhas/os. As palavras de maior repetição foram “fortalecer”, “menino”, “mesmo” e “vez”. As palavras em destaque são encontradas em trechos como: “Ela me fortaleceu, preparou todo o terreno para dizer e agora estamos juntas nesse processo, nessa transição, vou caminhando e vendo que ela está mais feliz” (Mulher cis, branca, 54 anos, mãe de filha transexual, grupo focal, abril de 2022).
Embora sejam observadas dificuldades de compreensão e aceitação do coming out, principalmente quando se refere à transição de gênero, constata-se o apoio expresso e sentido neste contexto. Apesar das tensões vividas frente ao coming out, as mães participantes expõem a oportunidade de crescimento pessoal e evolução, marcando significativamente essa fase.
Este artigo teve por objetivo geral apreender os significados da maternidade de mulheres/mães/cis com filhas/filhos assumidas/os LGBTQIAPN+, a partir da perspectiva teórica psicossociológica que abrange a Teoria do Núcleo Central (TNC). A contar da visualização organizada dos significantes expostos pelas mulheres/mães por meio da análise realizada pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD), são observadas as complexidades que envolvem a mulher e a maternidade com filhas/os LGBTQIAPN+.
Ao discutir a questão que circundam a feminilidade, a mulher e a maternidade, torna-se possível visualizar que este objeto de estudo se encaminhou para uma realidade construída socialmente, o tempo foi encarregando-se de incutir papéis inerentes a figura feminina, vista até o momento por um sinônimo de carinho, acolhimento e proteção, tanto em sua atribuição materna quanto na sua identidade feminina, concedendo a ela o papel intrinsecamente atrelado à maternidade.
Em relação ao estereótipo da maternidade na contemporaneidade, percebe-se que ela ainda é descrita de forma romantizada. Ser mãe está associado a aspectos idealizados como: proteção, amor incondicional e disponibilidade total. No entanto, esses conceitos contrariam a experiência real dos papéis maternos (Travassos-Rodriguez e Féres-Carneiro, 2013). Assim, embora as mulheres tenham ampliado seu espaço na sociedade assumindo novos papéis, as posições em que se encontravam contribuem para que sejam aptas a assumir todos eles, principalmente a maternidade. Esta maternidade, apoiada em expectativas, torna-se destoada frente ao coming out.
Essa investigação se mostrou adequada como possibilidade de reflexão crítica sobre instâncias sócio históricas responsáveis pela construção de crenças, valores, comportamentos e expectativas de mulheres com filhas/os LGBTQIAPN+. Os dados analisados por meio da roda de conversa permitiram realizar uma exploração dos elementos que compõem as representações sociais da maternidade com filhas/os LGBTQIAPN+. Seguidamente, apresentar os apanhados deste artigo a partir dos surgimentos das classes, respeitando a ordem cronológica dos encontros, a atribuir: Corpus A — Quem pariu seu Mateus que balance, B — Ser mãe é padecer no paraíso, e, por concluinte, C — Pandemia e (re)adaptação.
Por fim, o estudo atingiu de maneira satisfatória os objetivos da pesquisa, ao perceber nos corpora textuais a exposição das representações de social de mulheres/mães no processo de coming out, sendo ancoradas a partir das funções sociais que apresentam essa mulher/mãe como um ser construído historicamente, sendo vista e sentida na contemporaneidade por um sinônimo de carinho, acolhimento e proteção, tanto em sua atribuição materna quanto na sua identidade feminina, dando-lhe o papel intrinsecamente atrelado à maternidade.
No entanto, o estudo possui algumas fragilidades que precisam ser consideradas na contemplação dos dados analisados. O primeiro deles corresponde ao fato de que os encontros foram mediados em torno de temas específicos e, embora ao longo do debate não tenham sido recorrentes as intervenções, a inclusão de um material pode ter influenciado no material compartilhado pelas mulheres/cis/mães.
No que se refere ao eixo racial, aqui também se insere uma observação. Este estudo contou com a participação majoritária de mulheres brancas e, portanto, não se torna capaz de dimensionar os impactos sociais das representações no processo de maternidade em mulheres negras.
Cabe acrescentar ressalva quanto ao método utilizado. Mesmo que tenha sido uma alternativa para maior segurança de todas no contexto da pandemia, a utilização de encontros virtuais condicionava as participantes, uma vez que indispensavelmente elas precisam ter acesso à internet e a algum dispositivo que possibilitasse o ingresso nas reuniões. Além disso, a metodologia se tornou fragilizada, visto que, para os estudos de Representações sociais, faz-se necessário a utilização de aportes metodológicos específicos para identificar os núcleos centrais e periféricos das representações.
Assim, é notório que as pesquisas que envolvem a maternidade abarcam muitos significados, concluindo uma tarefa difícil a ser analisada, dado o campo multifacetado em que este objeto de estudo está inserido. Por conseguinte, espera-se que a pesquisa possa contribuir de forma satisfatória à classe acadêmica e ao público a que se refere o estudo.
37% dos brasileiros não aceitariam filho homossexual, diz pesquisa (2013, 31 do maio). Globo. https://glo.bo/16vJo9u
Acuña, David Ramírez & Lemos, Sônia Maria (2020). Vida familiar e saúde psicossocial. Em Maycoln Leôni Martins Teodoro & Maklim Nunes Baptista (Orgs.), Psicologia de família: teoria, avaliação e intervenção (pp. 64–69). Artmed.
Badinter, Elisabeth. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Nova Fronteira.
Batista, Maria Alice Magalhães da Silva. (2022). Ocupação dos espaços públicos e militância materna para fora do armário: atuação política entre integrantes do coletivo Mães pela Liberdade. Novos Debates, 7(2). https://doi.org/10.48006/2358-0097-7225
Charbonnier, Estéphane & Graziani, Pierluigi. (2016). The stress associated with the coming out process in the young adult population. Journal of Gay & Lesbian Mental Health, 20(4), 319–328. https://doi.org/10.1080/19359705.2016.1182957
Camargo, Brigido Vizeu & Justo, Ana Maria. (2013). IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513–518. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513751532016
Cardoso, Hugo Ferrari & Baptista, Makilim Nunes. (2020). Família e intergeracionalidade. Em Mayconl L.M. Teodoro & Makilim Nunes B. (Orgs.), Psicologia de família: teoria, avaliação e intervenção (pp. 4–14). Artmed.
Col Debella, Monalisa & Gaspodini, Icaro Bonamigo. (2021). Experiências de pais e mães quanto à revelação da orientação não heterossexual de filhos/as. Interação em Psicologia, 25(1), 11-22. https://doi.org/10.5380/riep.v25i1.68018
Costa, Carlos Gonçalves; Oliveira, João Manuel de & Nogueira, Conceição. (2010). Os discursos das pessoas LGBT. Em Concenição Nogueira & João. M. de Oliveira (Orgs.), Estudo sobre a discriminação em função da orientação sexual e da identidade de género (Vol. 8, pp. 211-239). Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. https://sigarra.up.pt/fpceup/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=16034
Costa, Fabrycianne Gonçalves & Coutinho, Maria da Penha Lima. (2017). O diabetes na perspectiva do conhecimento psicossociológico. Em Maria da Penha Lima Coutinho (Orgs.), Psicologia e sua interfase com a saúde (pp. 185–205). IESP.
Coutinho, Mantuan dos Sabrine & Menandro, Paulo Rogério Meira. (2009). A dona de tudo: um estudo intergeracional sobre representações sociais de mãe e esposa. GM.
Emídio, Thassia Souza & Gigek, Thaís. (2019). Elas não querem ser mães: Algumas reflexões sobre a escolha pela não maternidade na atualidade. Trivium - Estudos Interdisciplinares, 11(2), 186–197. https://doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186
Fonseca, Sandra Teixeira da. (2021). Mães fora do armário: travessias de (re)existências, negações, conflitos e luta [Dissertação de mestrado inédita]. Universidade Federal de São Carlos. https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/14730
Freires, Leogildo Alves; Guerra, Valeschka Martins & Nascimento, Andrea dos Santos. (2022). Desafios e proposições para a avaliação psicológica com grupos minorizados: (Des)alinhamentos sociopolíticos. Avaliação Psicológica, 21(4), 383–396. https://doi.org/10.15689/ap.2022.2104.24166.02
Freitas, Sandra; Bermúdez, Ximena Pamela Díaz & Mérchan-Hamann, Édgar. (2021). Sentidos atribuídos por jovens escolares LGBT à afetividade e à vivência da sexualidade. Saúde e Sociedade, 30, e190351. https://doi.org/10.1590/S0104-12902021190351
Gato, Jorge; Leal Daniela & Seabra, Daniel. (2020, maio 17). Redes de apoio social e saúde psicológica em jovens LGBT+ durante a pandemia de COVID-19: Relatório de divulgação de dados preliminares. Zenodo.org. https://doi.org/10.5281/zenodo.6562299
Hauer, Mariane & Guimarães, Rafael Siqueira de. (2015). Mães, filh@s e homossexualidade: Narrativas de aceitação. Temas em Psicologia, 23(3), 649–662. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513751492010
Kranz, Dirk. (2021). Associations between fathers’ masculinity orientation and anticipated reaction toward their child’s coming out. Frontiers in Psychology, 12, 711988. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.711988
Lima, Gabriel Vasconcellos Alves de. (2019). O reflexo da vitimização no processo de construção de identidade na população LGBT e sua relação com a saúde mental. https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/4077
Linhares, Emilly Mota; Andrade, Jenyfer da Costa; Meneses, Renata Oliveira Costa; Oliveira, Halley de Ferraro & Azevedo, Maria Regina Domingues de. (2021). Angústia, insegurança e medo na população LGBTQIA+: Comprometimento da saúde mental na pandemia da COVID-19. Research, Society and Development, 10(8), e43810817136. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i8.17136
Lomando, Eduardo; Wagner, Adriana & Gonçalves, Jaqueline. (2011). Coesão, adaptabilidade e rede social no relacionamento conjugal homossexual. Psicologia: Teoria e Prática, 13(3), 96–109. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=193821358008
Miskolci, Richard. (2015). “Discreto e fora do meio” - Notas sobre a visibilidade sexual contemporânea. Cadernos Pagu, 44, 61–90. https://doi.org/10.1590/1809-4449201500440061
Moraes, Lívia França; Soares, Leila Cristina; Raupp, Roberta Monteiro & Monteiro, Denise Leite Maia. (2023). Maternidade no cárcere: Influência na saúde física e emocional. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 23, e20210246. https://doi.org/10.1590/1806-9304202300000246
Moura, Joelson Moreno Brito; Silva, Risoneide Henriques da; Silva, Nylber Augusto da; Sousa, Daniel Carvalho Pires de & Albuquerque, Ulysses Paulino de. (2021). Preparação da pesquisa qualitativa. Em Ulysses Paulino de Albuquerque, Luiz Vital Fernandes Cruz da Cunha, Reinaldo Farias Paiva de Lucena & Rômulo Romeu da Nóbrega Alves (Orgs.), Métodos de pesquisa qualitativa para etnobiologia (pp. 45–62). Nupeea. https://www.researchgate.net/publication/351334960_Metodos_de_pesquisa_qualitativa_para_etnobiologia
Nascimento, Geysa Cristina Marcelino & Scorsolini-Comin, Fábio. (2018). A revelação da homossexualidade na família: Revisão integrativa da literatura científica. Trends in Psychology, 26, 1527–1541. https://doi.org/10.9788/TP2018.3-14Pt
Neiva, Mônica Lemes. (2019). Mães pela diversidade: Um movimento em defesa do direito de expressão de liberdade sexual. Em Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais 2019. https://broseguini.bonino.com.br/ojs/index.php/CBAS/article/view/586
Novais, Kaio Campos de. (2017). Falas de dor, abraços de celebração: Notas etnográficas sobre o movimento Mães pela Diversidade. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress.
Novais, Kaito Campos de. (2021). Lutar, amar e sofrer entre as Mães pela Diversidade. Sexualidad, Salud y Sociedad, 291–316. https://doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2020.36.13.a
Novo, Arthur Leonardo Costa. (2021). Famílias em transição: uma etnografia sobre relacionalidade, gênero e identidade nas vidas trans [Tese de doutorado inédita]. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/47036
Novo, Arthur Leonardo Costa. (2023). “Famílias fora do armário”: Emoções e mobilização política em uma associação de mães e pais de filhos LGBT. Em Lucía Eilbaum, Ana Paula da Silva, Débora Allebrandt, Flavia Medeiros, Helder Ferreira, Juliane Bazzo, Paulo Victor Leite Lopes & Taniele Rui (Orgs.), Antropologia e direitos humanos (pp. 22–49). Aba Publicações. https://doi.org/10.48207/9786587065700-2
Passareli, Paola Moura & Silva, José Aparecido da. (2007). Psicologia positiva e o estudo do bem-estar subjetivo. Estudos de Psicologia (Campinas), 24, 513–517. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2007000400010
Pereira, Lívia Cretton & Tsallis, Alexandra Cleopatre. (2020). Maternidade versus sacrifício: Uma análise do efeito moral dos discursos e práticas sobre a maternidade, comumente engendrados nos corpos das mulheres. Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais, 15(3), 1–14. http://periodicos.ufsj.edu.br/revista_ppp/article/view/e3651
Quelotti, Amanda & Ribeiro, Anna. (2022). Maternidade e maternagem: Quando o biológico e o psíquico não se encontram. Cadernos de Psicologia, 4(7). Recuperado de https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/cadernospsicologia/article/view/3280
Sampaio, Felipe. (2021, 8 de março). Quem pariu Mateus que o embale. VEJA. https://veja.abril.com.br/coluna/noblat/quem-pariu-mateus-que-o-embale-por-felipe-sampaio/
Sampaio, Juliana; Santos, Gilney Costa; Agostini, Marcia & Salvador, Anarita de Souza. (2014). Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: Uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 18, 1299–1311. https://doi.org/10.1590/1807-57622013.0264
Silva, Juliana Marcia Santos; Cardoso, Vanessa Clemente; Abreu, Kamila Eulálio & Silva, Lívia Souza. (2021). A feminização do cuidado e a sobrecarga da mulher-mãe na pandemia. Revista Feminismos, 8(3). https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/42114
Tartuce, Fernanda & Tassinari, Simone. (2022). Exigências de maior responsabilidade parental e ajustes sobre convivência familiar no contexto da pandemia. Direito UNIFACS – Debate Virtual, 261. Recuperado de https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/7810
Travassos-Rodriguez, Fernanda & Féres-Carneiro, Terezinha. (2013). Maternidade tardia e ambivalência: Algumas reflexões. Tempo Psicanalítico, 45(1), 111–121. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382013000100008&lng=pt&tlng=pt
Wieler, Bárbara Luísa Martins. (2023). Interação, heteroglossia e discurso na #maternidadereal. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso, 18(2), 180–202. https://doi.org/10.1590/2176-4573p58710
Edsângela Maria Porto Palmeira Silva
Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas; especialista em Reabilitação de Dependentes Químicos e Psicologia Hospitalar; bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário CESMAC.
edsangela.palmeira@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6178-0838
Leogildo Alves Freires
Professor da Universidade Federal de Alagoas, doutor e mestre em psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba; especialista em avaliação psicológica pelo Conselho Federal de Psicologia; bacharel em psicologia pela Universidade Federal da Paraíba. Docente pelo programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Alagoas. Líder do laboratório alagoano de psicometria e avaliação psicológica.
leogildo.freires@ip.ufal.br
https://orcid.org/0000-0001-5149-2648
Willamys da Costa Melo
Doutorando em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina; mestre em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e bacharel em psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.
willamys.costa@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7249-5653
Rodolfo Duarte da Silva
Mestrando e bacharel em psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.
rodolfo.silva@ip.ufal.br
https://orcid.org/0000-0002-3508-5740
José Anderson da Costa Silva Filho
Mestrando e bacharel em psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.
anderson.palmeira04@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-4825-0119
Heitor Marinho da Silva Araújo
Doutorando em psicologia pela Universidade Federal da Bahia em período de intercâmbio na Kingston University; mestre em psicologia social e bacharel em psicologia pela Universidade Federal da Paraíba
heitormrnh@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7239-3147
Formato de citación
Porto Palmeira Silva, Edsângela Maria; Alves Freires, Leogildo; da Costa Melo, Willamys; Duarte da Silva, Rodolfo; da Costa Silva Filho, José Anderson & Marinho da Silva Araújo, Heitor. (2025). “Temos tanto para contar…”: representações sociais da maternidade com filhas/os assumidas/os LGBTQIAPNb+. Quaderns de Psicologia, 27(1), e2143. https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2143
Historia editorial
Recibido: 04-03-2024
1ª revisión: 23-10-2024
2ª revisión: 01-11-2024
Aceptado: 05-11-2024
Publicado: 01-04-2025
_______________________________
1 LGBTQIAPNb+ é a sigla que representa lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e travestis, queers, intersexuais, panssexuais e não-binários.