Quaderns de Psicologia | 2024, Vol. 26, Nro. 2, e2001 | ISNN: 0211-3481 |
https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2001
Dolores Galindo
Universidade Federal de Campina Grande
Renata Vilela Rodrigues
Universidade Federal de Mato Grosso
Flávia Cristina Silveira Lemos
Universidade Federal do Pará
Morgana Moura
Universidade Federal de Mato Grosso
Fernanda Zanata
Universidade Federal de Mato Grosso
Resumo
A Psicologia Social, apoiada nas epistemes feministas decoloniais e antirracistas e em diálogo com a teoria da bolsa de ficção proposta pela escritora de Ficção científica Ursula Le Guin, convida a narrativas desprovidas do heroísmo humano, desarraigando-nos da ideia de autonomia e a uma aposta radical na imaginação. Neste artigo, buscamos contribuir para uma releitura do gesto da coleta na pesquisa em Psicologia Social, desvencilhando-o de um viés positivista e o atrelando a uma imaginação política feminista. Se prestarmos atenção é inequívoco que, enquanto coletamos, sempre nos escapa algo que cai ao solo como semente, adubo, rastro. Coletar é, também, semear, fertilizar.
Palavras-chave: Psicologia Social; Feminismos; Ficção; Imaginação
Abstract
Social Psychology supported by decolonial and antiracist feminist epistemes in dialogue with the theory of fictional scholarship proposed by science fiction writer Ursula Le Guin invites us to narratives devoid of human heroism, uprooting us from the idea of autonomy and to a radical bet on imagination. In this article, we seek to contribute to a re-reading of the gesture of collecting in social psychology research, detaching it from a positivist bias and linking it to a feminist political imagination. If we pay attention, it is unmistakable that while we collect, something always escapes us that falls to the ground as a seed, fertilizer, or trail. To collect is also to sow, to fertilize.
Keywords: Social Psychology; Feminisms; Fiction; Imagination
Em 2004, durante o colóquio “Ciencia Ficción y Ciencias Sociales”, organizado no Programa de Pós-Graduação Persona y Sociedad en el Mundo Contemporàneo, ligado ao Departamento de Psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona, pesquisadores e pesquisadoras indagavam: “O que acontece, se passamos a nomear nossas escritas e pesquisas como ficções sociais, no entrecruzamento entre ficção científica e ciência?” “Como evitar que as formas de escrita da ficção científica sejam cooptadas pelas ciências e se tornem tão somente modos de produção de verdades especulares?” (Galindo e Bonna, 2004, p. 04, tradução nossa). As reflexões sobre as relações entre Ficção Científica e Psicologia Social que nortearam o colóquio, permanecem atuais, seja no sentido da ficção como ética da escrita, seja no sentido propriamente metodológico do como escrevemos.
Dez anos depois, em 2014, Ursula Le Guin, escritora de ficção científica norte-americana, ao receber o prêmio National Book Awards, durante seu discurso de agradecimento, definiu escritores e escritoras de ficção científica como “realistas de uma realidade maior”. Ela foi a primeira escritora de ficção científica a receber esse prêmio. Por cinquenta anos, escritores e escritoras de ficção científica não foram agraciados, pois os prêmios eram, prioritariamente, destinados aos escritores e escritoras chamados de realistas, dentre os quais não estariam os de ficção científica (Le Guin, 2014).
Com este artigo, buscamos contribuir para um alargamento da imaginação política em Psicologia Social, sobretudo, para uma releitura e reescrita do gesto da coleta na pesquisa, desvencilhando-o de um viés positivista e o atrelando a uma imaginação política feminista. Se prestarmos atenção, constataremos que, enquanto coletamos, sempre nos escapa algo que cai ao solo como semente, adubo, rastro. No entanto, com vistas a escaparmos a uma retórica positivista, não raras vezes, evitamos, quando possível, a palavra “coleta”, para referir aos gestos de pesquisa, como se coletar fosse reunir evidências de algo que estivesse lá e então (coletar coisas dadas), para além do próprio gesto da coleta (existentes per si) e, portanto, uma prática vinculada a um realismo simples e a uma verdade de cunho especular.
A partir dos trabalhos de proposição da teoria da bolsa de ficção de Ursula Le Guin e da ficção científica de Octavia Butler, procuramos realçar as potências da coleta como gesto de pesquisa orientado por uma imaginação política feminista, a qual se desvencilha do heroísmo masculinista como modus operandi da arte de contar estórias. As obras de Octavia Butler tensionam as imagens predominantes nas narrativas de ficção e de fantasia científica, trazendo personagens negras, mulheres e migrantes como protagonistas. Tais produções inscrevem mundos alternativos com personagens negras e cosmologias da diáspora, com destaque para elementos da cultura Yorubá. Sendo uma escritora negra, nos Estados Unidos, Octavia Butler enfrentou muitas barreiras para a difusão da sua obra e reconhecimento em vida: alegavam que a uma mulher negra não cabia escrever ficção científica.
Os usos da teoria como bolsa de ficções para pensar o gesto da coleta, na pesquisa em Psicologia Social, convidam a um reposicionamento da imaginação como potência que nos permite transitar por um mundo emaranhado e interdependente, sem heroicização e que coloca em xeque dicotomias do pensamento moderno-colonial, tais como a distinção entre poética e fatualidade. Nesse enfoque, coletar remete ao trabalho feminista que reescreve as estórias centradas na heroicização de alguns, no conflito como mobilizador das tramas e que deixam em segundo plano as narrativas nas quais a coleta precede o gesto da caça, em que nada é, a priori, relegado ao estatuto moderno colonial do que está dado. Como pontua Juliana Fausto (2021, p. 19), “uma literatura bolseira não se apropria. Escuta a terra, tornando-se com ela”.
O conceito de imaginação política supõe uma redefinição da associação moderno-colonial entre política e realidade, a qual deixa a imaginação e o sonho para um segundo plano ou, mesmo, para uma zona de exclusão do que seria da ordem do político. Stephen Duncombe e Silas Harrebye (2022) destacam que a imaginação política conjura (im)possíveis e não apenas descreve um determinado estado de coisas, sendo a arte um dos principais vetores que a ativam, para questionar opressões cotidianas. Nesse sentido, a imaginação política se distancia do escapismo, na mesma medida que se distancia do ímpeto descritivo realista simples.
Um dos equívocos possíveis de leitura das narrativas bolseiras consiste em supor que, ao enfatizarmos o cuidado e a interdependência, e a coleta no lugar da guerra, ignoramos as opressões interseccionais que atravessam nossos corpos e escrita. Há espaço para conflitos, nas narrativas de Octavia Butler. Apostar no gesto de coleta coincide com o ato de, posicionadas em meio às opressões conectadas, praticarmos gestos de pesquisa que estejam mais próximos dos diferentes cotidianos das mulheres, nas ciências construídas nas universidades e fora delas. Octavia Butler (Fast Forward: Contemporary Science Fiction, 2018), numa das tantas entrevistas que forneceu, ao longo da vida, enfatiza que, nas narrativas que escreveu, as personagens negras podem tudo o que se mostraria impossível fora da ficção, realçando haver escolhido a ficção científica, justamente, por esse caráter radicalmente experimental.
Inspiradas na teoria bolseira, entendemos que coletar, como gesto de pesquisa, é semear, fertilizar aquilo que cai e que, em muitos casos, não é percebido e/ou considerado relevante pelas pesquisas de base positivista. De acordo com Peter Spink (2003), as pesquisas em Psicologia Social há muito tempo chamam a atenção para a ampliação das vozes, dos espaços-tempo e das múltiplas proposições que o gesto de coletar, como parte de uma arte de contar estórias, pode alcançar. Dessa maneira, coletar não é apenas recolher, reunir. Coletar é, também, deixar escapar, hesitar, sem pretensão à universalização. Propomos, para tanto, com base nas contribuições de Ursula Le Guin, Donna Haraway e Octavia Butler, pensarmos a escrita científica como uma bolsa de ficções. As bolsas de ficções são tecnologias narrativas vinculantes, as quais ensejam mundos outros e alternativos aos modos de vida moderno-coloniais.
Para a escrita deste trabalho, adotamos o recurso ao figurarCOM a teoria da bolsa de ficções proposta por Ursula Le Guin (especialmente, na leitura que realiza Donna Haraway) e em diálogo com a obra de Octavia Butler. A partir das contribuições de Donna Haraway, entendemos que a figuração é um recurso de experimentação que possibilita abarcar o que seria tido, numa lógica excludente, como contraditório ou, numa perspectiva realista simples, como não existente (Galindo, 2013, 2020).
Quando propomos tecer contribuições para uma releitura do gesto da coleta em Psicologia Social, trata-se de uma reapropriação de um gesto roubado pelas narrativas colonialistas-modernas, nas ciências. Ou seja, convidamos a uma releitura de um gesto de pesquisa que passou a ser visto como pouco recomendável às perspectivas críticas, em Psicologia Social, afinal, numa perspectiva moderno-colonial, coletar remete à marcha positivista sob a égide do coletar dados que atualiza dicotomias como sujeito e objeto, pesquisador e pesquisado, dentre outras. Trazemos a expressão “gestos de pesquisa”, para nos referirmos a como nos relacionamos com as diferentes materialidades e viventes com os(as) quais buscamos fazer ver ou fazer falar documentos, conversações e outros registros, em função de determinados princípios narrativos e corporalidades. Mais especificamente, trazemos essa expressão, inspiradas no trabalho historiográfico de Arlette Farge (2009), que, em O Sabor do Arquivo, ao invés de “passos” ou “etapas da pesquisa”, prefere gestos que vão sendo acionados, no decorrer da pesquisa documental com arquivos.
Num gesto poético arriscado, Luiza Romão, no livro Também guardamos pedras aqui, agraciado com o Prêmio Jabuti, em 2022, propôs-se uma releitura da Ilíada, a partir de uma narrativa situada desde Troia e posicionada como uma mulher. Nesse trabalho, a mítica figura do herói grego Ulisses e suas vitórias são confrontadas. Escreve ela: “Ulisses/nada como contar uma boa história/se apaixonar pela dor/manter a camisa limpa/uma legião de fãs pra te honrar/olha ele/o grandioso/olha ele/as façanhas/quem mais calaria as sirenes?” (Romão, 2022, p. 14). As diferentes figuras masculinas que compõem a narrativa da Ilíada vão sendo reescritas e reposicionadas, com base em um olhar feminista. Luiza Romão indaga os silêncios das figuras femininas e tece alianças com as poucas presenças de mulheres, todas em Troia. Assim, sobre Cibele, escreve ela: “nenhuma linha sobre Cibele/onde perdemos o tino quando virou espetáculo/maldita literatura e seu panteão de vitórias” (Romão, 2022, p. 31). Troia, por sua vez, é reposicionada como espaço de colonização e violência. Numa entrevista sobre a obra, em 2023, Luiza Romão pontua: “Troia se ergue e é destruída muitas vezes, ao longo da história, e aos vencidos nem mesmo sobram as ruínas, os espaços de memória e resistência” (Maruchel, 2023, párr. 78). O que faz Luiza Romão é um gesto de coleta vertiginoso, apoiado nos Slams conduzidos por mulheres, que renarra Troia a partir da mirada das mulheres, retirando das figuras masculinas e da guerra a proeminência que possuem no original.
A teoria como bolsa de ficção, proposta por Ursula Le Guin, traz a interdependência ao primeiro plano, substituindo os repertórios políticos da autonomia de base individualista e solipsista (Haraway, 2022). Permite reposicionar as mulheres e suas atividades, as quais, do ponto de vista da historiografia hegemônica, perderam espaço para os homens heroicizados e para os artefatos bélicos atribuídos ao masculino. É nesse sentido que podemos, recorrendo a uma genealogia contracolonial, entender essas bolsas como cestos. Rubens Elias da Silva et al. (2014), num trabalho de pesquisa junto às mulheres coletoras de sementes, no Alto Tapajós, observam que elas aprendem cedo a identificar as sementes mais fortes, o período do ano para a coleta e os intervalos de tempo para perecibilidade. As mulheres aprendem com as sementes e com as florestas, como corpos-territórios que não se situam apenas nos limites da pele.
Assumir a centralidade do gesto da coleta no fazer científico, numa perspectiva feminista que enseja a teoria como bolsa de ficções, constitui uma tarefa arriscada e impossível para uma ciência escrita prioritariamente a partir de padrões androcêntricos e moderno-coloniais. E, ainda mais, quando evocamos a coleta das mulheres e suas cestas, as cestas e as sementes, as sementes em suas relacionalidades e agência. Donna Haraway (2023a, p. 216) nos lembra que, em determinado momento da vida, Ursula Le Guin se autodescreve como uma “mulher envelhecida zangada, impondo-me como minha bolsa, lutando contra bandidos… uma daquelas malditas coisas que tem que ser feitas para se poder continuar coletando aveia selvagem e contando estórias”. O lugar para contar estórias bolseiras não está dado, pois, como alertam Vinciane Despret e Isabelle Stengers (2011), a escrita das mulheres que borram gêneros e fronteiras provoca barulho, trazendo os afetos e localização ao primeiro plano das narrativas. As estórias bolseiras indagam, inclusive, as narrativas que atrelam mulheridades a vinculações biologizantes numa trama de normalização dos corpos e gêneros.
Acompanhando Donna Haraway (2023a), a bolsa que nos interessa é aquela que permite abordar histórias não contadas, histórias afiadas e semeadoras viajantes. É mais do que sobrevivência. Nessa direção, evocamos o trabalho de Maria Raimunda Penha Soares (2021), a qual, ao pesquisar a tessitura das resistências e lutas coletivas de mulheres quilombolas, no Maranhão e Rio de Janeiro, realça a importância da dimensão afetiva nos enfrentamentos das mulheres nos diferentes territórios. A coleta da qual falamos se dá, também, por afetos e afetações, nos enfrentamentos diretos e nos furtivos.
O princípio narrativo proposto pela teoria da bolsa de ficção, ou “teoria bolseira”, em diálogo com a Psicologia Social e apoiada em epistemes feministas e decoloniais, convida a narrativas desprovidas do heroísmo humano masculinista, desarraigando-nos da ideia de autonomia. A teoria como uma bolsa, um cesto de ficções, possui efeitos performativos que podem ser estendidos, inclusive, ao plano da garantia de direitos. Como nos mostra Mariléa Almeida, no livro Devir Quilombola: antirracismo, afeto e política nas práticas das mulheres quilombolas, publicado em 2022, em decorrência da mudança de sensibilidade analítica em direção às práticas de cuidado atribuídas à cultura do feminino e a uma menor ênfase na virilidade, as mulheres negras quilombolas passaram a ser protagonistas nas dinâmicas de titulação das terras quilombolas e, com elas, todo um mundo de relacionalidades com as plantas, animais e outros(as) viventes adquiriram relevância. Ao invés das batalhas dos homens, aparecem as práticas de cuidado das mulheres, nas suas relações com a terra e o território. Nas suas práticas cotidianas, as mulheres quilombolas fazem o enfrentamento ao racismo, em suas diferentes expressões, por meio de uma ética do cuidado de si e do outro, do cuidado com o território situado como corpo.
A substituição do princípio heroico nas narrativas vem permitindo que a escrita de mulheres minorizadas, como as mulheres quilombolas, adquiram maior evidência, como ocorre com as mulheres quilombolas na historiografia brasileira que, por décadas, privilegiou os embates masculinos (virilidade, violência, individualismo, competição e força) e pouco se ateve às relações das pessoas com os territórios e às práticas de cuidado (Almeida, 2022). Situadas fora dos princípios que regeram, por séculos, as ficções moderno-coloniais da razão, mulheres, racializadas como não brancas, vêm constituindo mundos os quais nem sempre conseguem ingressar nas ficções científicas dos nossos gestos de pesquisa hegemônicos (sim, os gestos de pesquisa moderno-coloniais são também ficções). Por que ainda persiste a agonística, ao invés da interdependência? Quais são os efeitos políticos e performativos do predomínio de uma política ficcional moderno-colonial nos gestos de pesquisa?
Retomando a poética de Luiza Romão (2022), nossas narrativas enquanto bolsas de ficção não se eximem a lembrar que “também guardamos pedras aqui”. Coletar não coincide com um gesto dócil. É nessa direção que Adelaide Ivánova (2022), na orelha do livro, pontua a resistência ao neocolonialismo, a afirmação da vida contrastando as pedras de Luiza às de Virgínia, que, guardadas nos bolsos, levaram-na à morte por afogamento. Não são as pedras dos feminismos hegemônicos.
A escritora Ursula Le Guin (2021) propõe, em Teoria da bolsa da ficção, narrativas que, ao invés de centrar as estórias em um herói, as centram numa bolsa. É importante acentuar que a narrativa de natureza heroica não está relacionada ao homem, assim como a narrativa como bolsa não está associada à figura de uma mulher, mas a um estilo de narrativa que preza uma determinada filosofia e postura, na história. O herói estaria ligado à conquista, por meio da imposição da força; a narrativa bolseira, por sua vez, está ligada às histórias da vida cotidiana, situações e posições, em suas múltiplas relações.
Um herói guerreia, por vezes mata e, obviamente, vence; isso pode ser visto tanto em sua faceta de morte e destruição quanto como um relato salvacionista herdeiro das narrativas do cristianismo, dependendo de que lado você está, e faz diferença, pois sempre haverá quem irá viver e quem irá morrer: contudo, por que há de se matar? Já a tarefa da bolsa é coletar, caminhar, procurar; ela guarda, preserva, conserva ou mesmo permite esquecer, esconder quando necessário. Uma bolsa, uma caixinha, uma carteira são tipos de bolsa onde guardamos coisas valiosas, as quais contam uma história/estória de continuidade e de desfazimentos, de lembranças e de pequenos esquecimentos.
As estórias mobilizadas pela teoria da bolsa de ficção são mundanas e não necessariamente orientadas ao conflito e ao seu desfecho; estórias que abrem para outras estórias. Para Ursula Le Guin (2021), um livro guarda palavras, palavras guardam coisas, coisas contêm significados potentes. Assim, um romance, ou uma história que narramos, pode configurar-se, também, uma morada. Ou seja, para a autora, um relato bolseiro pode não conter emoções fortes, envolvendo caçadas, mas é um relato muito mais útil, rico e interessante, porque uma bolsa é capaz de guardar e carregar várias estórias que não apenas extrapolam o presente, todavia, atuam nas suas pontas soltas (Le Guin, 1969/2014).
As narrativas anti-heroicas buscam escapar, também, dos dualismos de gênero, questionando as naturalizações que produzem um sujeito mulher universal e universalista. Trata-se de uma proposta de cunho ontológico, a qual nos permite escrever e criar alianças em mundos feridos por meio de práticas científicas que não se apoiam em uma pretensa realidade, objetividade e representação. Daí o reposicionamento da imaginação e da especulação, enquanto ferramentas axiais de uma “coleta generativa” que vem ao encontro das escritas minoritárias. Para Donna Haraway (2023a), inspirada em La Bare, a ficção científica, mais do que um gênero ficcional, pode ser descrita como um “modo SF de atenção”, isto é, um dispositivo através do qual é possível pensar e constituir materialmente alternativas a um mundo ferido.
É assim que, em Borderlands/La Frontera, um livro que apresenta ensaios teóricos, poemas, autobiografia, Gloria Anzaldúa (2009a) desenvolve uma escrita poética que se dá a partir das interconexões com o ficcional, a qual denomina elíptico-espiral, porque os temas e poemas que compõem os capítulos podem aparecer e reaparecer. Importante frisar que, segundo a autora, não é apenas uma mudança de código idiomático, mas uma abertura à presença das mulheres que a leem.
Na mesma direção, Octavia Butler (2018), uma das primeiras escritoras negras de ficção científica a adquirir visibilidade e ser agraciada com grandes premiações literárias, traz às estórias que narra toda uma tradição negra afrodiaspórica, como, por exemplo, Oyá, senhora dos ventos e das tempestades, a qual passa a nomear uma das personagens em Parábola do Semeador. Como observa Donna Haraway (2022, p. 216), para as narrativas, a escritora utiliza a expressão “bolsa de sementes remendada”:
Octavia Butler sabe tudo sobre as estórias não contadas, aquelas que necessitam de uma bolsa de sementes remendada e de uma semeadora viajante para escavar um lugar para o florescimento depois das catástrofes daquela Estória Afiada.
Em A Parábola do Semeador, Octavia Butler (2018) mescla itãs da tradição Yorubá africana às narrativas de ficção científica sobre fins e semeaduras de mundos. A respeito do trabalho de ficção científica (SF) de Octavia Butler, Donna Haraway (2022) enfatiza:
O conjunto da obra de Butler como escritora SF está cravado no problema da destruição e do florescimento ferido — e não simplesmente da sobrevivência — no exílio, na diáspora, na abdução e na transportação. Trata-se do dom e do fardo terreno de descendentes de pessoas escravizadas, refugiadas, imigrantes, viajantes e indígenas. Esse não é um fardo que termina no momento da ocupação (Haraway, 2022, p. 216).
Quando nos referimos a Octavia Butler, aludimos a uma bolsa cujas costuras/suturas são cingidas por mulheres viajantes entre mundos, que escrevem com os corpos atravessados por opressões conectadas. É oportuno lembrar as escritoras que viajam entre mundos, descritas por Patricia Hill Collins (1999, 2016), as quais pertencem sem pertencer inteiramente às universidades e aos regimes de escrita legitimados por dicotomias modernas e coloniais — “forasteiras de dentro”. São mulheres que ocupam posições minorizadas, nas universidades (e na escrita SF), aquelas que viajam entre mundos e são capazes, portanto, de identificar anomalias na vida universitária, que permanecem invisíveis aos olhos de insiders, bem como forçam os limites paradigmáticos do que entendemos por ciências, colocando, por exemplo, a autodefinição, a cultura das mulheres negras e a interconexão das opressões no centro dos debates.
A figura das forasteiras de dentro foi cunhada por Patricia Hill Collins (1999), a fim de abordar a vivência de mulheres afro-americanas nas universidades do período pós-segregação, as quais, com suas tensões inventivas, convocam a um aprendizado da confiança nas biografias individuais e culturais como partes importantes da produção de conhecimento. Essa figura emergiu, no pensamento e na biografia intelectual da autora, para dar conta das experiências que ela vivia nas universidades do pós-segregação e para se referir às hierarquias interseccionadas de gênero, classe e raça. Não se referia a identidades individuais ou a um apelo à transparência próprio a uma cultura de base individualista, na qual qualquer pessoa, indistintamente, poderia reivindicar para si o lugar de forasteira de dentro, ao custo da perda da genealogia, que marcou a emergência dessa categoria.
Coletando estórias da ficção científica, Donna Haraway (2023a) propõe um pensamento tentacular que, diferente de uma autopoiese, funciona de maneira simpoiética, gerando parentescos não consanguíneos, linhas que se interconectam, compostos multiespécies, humanas e não humanas. “Tentaculum” remete a “tentare”, sentir, ou ainda, a “testar”. Para a autora, a ficção científica é posicionada como parte de um jogo de figuras de cordas, no qual alguns fios caem e outros vão formando figurações numa prática coletiva de conexões e interdependência. É nessa direção que a simpoiese é lida por Donna Haraway (2022, p. 226) como uma “bolsa para continuidade, um julgo para devir-com, para ficar com o problema que consiste em danos e feitos de histórias naturais culturais coloniais e pós-coloniais”. Refigurar a coleta enquanto gesto de pesquisa em Psicologia Social possibilita que estórias, apoiadas num modo SF feminista de atenção, venham a ser contadas.
Na pesquisa em Psicologia Social, figurarCOM a teoria da bolsa de ficção, desenvolvida pela escritora Ursula Le Guin, parece-nos uma alternativa potente para desacelerar a busca moderno-colonial pela fatualidade, bem como para escaparmos à ênfase kantiana nas faculdades do entendimento como princípios de ordenação e conhecimento do mundo. No lugar das faculdades do entendimento, a imaginação e a especulação, aliadas a critérios de validação ancorados numa objetividade forte e amorosa (Galindo et al., 2022; Harding, 1995).
Coletar, como gesto de pesquisa, pode ser situado como um gesto da imaginação, ao invés de uma resultante unicamente das faculdades kantianas do entendimento assentadas no princípio de separabilidade e suas dicotomias. Como argumenta Denise Ferreira da Silva (2016), no ensaio Sobre diferença sem separabilidade, uma necessidade imperiosa da pesquisa contemporânea reside em nos desvencilharmos do entendimento como princípio ordenador do mundo e do modo como o pensamos. Coletar é semear pelo que escapa, não necessariamente pelo que se guarda nos cestos — imaginemos uma mulher que coleta frutos, coloca-os no cesto… Olhemos para o solo, veremos que caem alguns frutos, numa fertilização que se dá pelo que cai ao solo.
No lugar da ênfase nas faculdades do entendimento, acionamos a imaginação, que se dá com e em função de um mundo sem ordenação substancialista prévia, ou seja, sem separabilidade — um mundo emaranhado. Seguindo Denise Ferreira da Silva (2016), convidamos a reposicionar a imaginação sem separabilidade (mundo composto por partes separadas formalmente) e sem determinabilidade (o conhecimento derivado do entendimento). As figurações nos ajudam a nos movermos nas multiplicidades.
Para refigurar o gesto da coleta em Psicologia Social, propomos dois movimentos que residem em, de um lado, abandonar a heroicização e a centralidade do conflito e, de outro, apostar nas figuraçõesCOM elementos ficcionais e um modo SF de atenção, os quais facultam operar com as pontas soltas do presente, em exercícios de imaginação política que dizem respeito ao modo como vivemos juntos e juntas.
Donna Haraway (#mucaRomaenred, 2020), durante uma fala pública no México, narra que regressou de uma viagem de trabalho à Colômbia, com duração de duas semanas. Esteve em Bogotá, Bucaramanga e Santa Marta. A viagem foi realizada a convite de colegas que trabalham junto a comunidades tradicionais, num amplo processo de promoção de justiça social, natural e de práticas de cuidado. Na viagem a trabalho, amigas e amigos de Donna Haraway possibilitaram que ela convivesse com mulheres que tecem e costuram a paz no cotidiano, fazendo, por meio da arte têxtil, o que Le Guin propunha, ou seja, contar histórias não contadas nas narrativas hegemônicas, histórias do cotidiano das pessoas e povos que não estariam nos compêndios e narrativas heroicas. São narrativas marcadas pela reciprocidade. Ao final desse encontro, as amigas e amigos a presentearam com três bolsas com bordados que aludem a diferentes lutas e territórios colombianos, projetos e modos de viver e morrer.
Donna Haraway (#mucaRomaenred, 2020, vídeo-seção Carrier bags for worlding) pontua que “nenhuma das mochilas é um projeto utópico separado da morte nos territórios. Ao contrário, cada mochila situa as pessoas que as produzem e as pessoas que as levam”, num trabalho que fortalece as pessoas que as produzem e quem as porta. Para a autora, essas bolsas “fazem com que as pessoas que as produzem identifiquem o que ocorre e narrem. Dizem de como poderia ser diferente e se tivermos muita sorte, de como ainda pode ser muito diferente”. São bolsas que narram um realismo estranho, um realismo maior.
As bolsas de ficções convidam também a um processo de respons-habilidade com as histórias que incorporam, de modo a ouvir, ao invés de roubar e sequestrar histórias. As bolsas fazem com que Donna Haraway (#mucaRomaenred, 2020) conecte histórias colombianas, mexicanas e do território onde vive, Califórnia. Assim, as mochilas colombianas são tecnologias vinculantes de produção de narrativas. No entanto, as bolsas contam histórias que não serão lidas por todas as pessoas, não são histórias universais e presas a sujeitos universalistas. Narra que as bolsas contam algumas histórias para as forasteiras, outras para os povos que as produzem. Haraway (#mucaRomaenred, 2020, vídeo-seção Carrier bags for worlding) pergunta: “Quem vive e quem morre, quando se conta uma história?” “Como devem ser difundidas as histórias?”
Ao menos dois perigos se associam às políticas de pesquisa inspiradas pelas bolsas de ficções. O primeiro seria, justamente, o oposto, o risco de cairmos em estórias universalistas e humanitárias que nos apartam das experiências, impedindo devires minoritários na escrita, como adverte Gloria Anzaldúa (2009b). Um segundo, a busca de apoio em perspectivas ambientalistas que se fundam, conforme aponta Malcom Ferdinand (2022), num pretenso retorno à natureza, muitas vezes traduzido em uma gramática colonial. A ideia mítica de “retorno” como movimento teórico reproduz a imagem da Arca de Noé, à medida que nem todos podem participar dela e, portanto, atualiza uma cumplicidade entre o retorno à natureza e uma fratura colonial, a qual, segundo Ferdinand (2022), hierarquiza humanos e não humanos, a partir de critérios geográficos, históricos de colonização e das práticas de escravização — brancos e não brancos, cristãos e não cristãos, senhores e escravos, moradores de países do Norte e de países do Sul.
Em entrevista a Jensen e Thorsen, Isabelle Stengers (2018) comenta como a ficção científica ou a especulação fabulativa podem ser um meio de construir pensamentos que levam em conta formas alternativas de se conceber e se construir o mundo. É o imaginar, exercer o “E se, no sentido de não ficar preso ou limitado a uma realidade que aparentemente está posta, e ser capaz de se aventurar em imaginar outros mundos, articulando a pergunta insistente e intersticial do que é possível contra os argumentos dominantes” (Jensen e Thorse, 2018, p. 12, tradução nossa). As fabulações prescindem da comutabilidade atribuída às coisas e viventes com os quais nos relacionamos, nas pesquisas — como se fossem peças substituíveis por outras de condições similares — e avaliadas de maneira econômica, numa construção transparente de conhecimento.
Coletar ao modo feminista SF é lidar com as surpresas e com um grau de liberdade requerido por relações de pesquisa que apostam na imaginação e na fabulação, para constituição de mundos outros na escrita, entendendo que as ciências não possuem sua gênese na narrativa canônica da modernidade/colonialidade. As ciências possuem uma genealogia múltipla que se relaciona a diferentes territórios e capturas colonialistas. A teoria bolseira que interessa aos devires minoritários, inspirada em Ursula Le Guin e Octavia Butler, se materializa na escrita de Mariléia Almeida (2002), de Luiza Romão (2022) e no cotidiano das mulheres que coletam sementes e perfazem relações anticapitalistas e resistentes aos colonialismos e colonialidades (Pereira et al. 2022; Silva et al., 2014).
A razão colonial ou, mais propriamente, a razão iluminista, assombra o pensamento contemporâneo com uma ideia de sujeito e de ação orientada pela sequencialidade, separação e discernibilidade (Ferreira da Silva, 2016). Todos os viventes separados, ordenados, substancializados, a partir de hierarquias epistêmicas e ontológicas. A razão feminista, na América Latina, não escapa a essa herança, persistindo, majoritariamente, colonialista e universalista, a despeito das problematizações trazidas por diferentes feminismos minoritários, reafirmando o compromisso entre prática feminista e modernidade ocidental (Espinosa-Miñoso, 2016, 2020).
Uma perspectiva feminista decolonial, para Yuderkys Espinosa-Miñoso (2016, p. 06), necessita nutrir-se “dos aportes teóricos de análise da colonialidade e do racismo — já não como fenômeno, e sim como episteme intrínseca à modernidade e seus projetos libertadores”. A universalização das problematizações decoloniais pode reduzir o seu potencial heurístico e político, tal como se passou com os aportes pós-coloniais, bem como ao apagamento da sua gênese ligada às lutas anticoloniais. Segundo alerta Breny Medoza (2021, p. 295), “a descolonização não é uma metáfora para todas as críticas antirracistas, anticapitalistas nem das críticas ao eurocentrismo”.
Nessa direção, a narrativa do herói tem sido um dos carros-chefes das ciências modernas coloniais, quase sempre com humanos homens como protagonistas. Todavia, em face das catástrofes e das ruínas deixadas pelo progresso moderno colonial, parece ser essencial nos apossarmos da narrativa da bolsa coletora, para, sem pressa e com paciência, olharmos ao redor, com o foco descentrado do humano definido a partir da separabilidade e de uma unicidade ontológica, atentando às práticas cotidianas daquelas e daqueles a quem não se lhes atribui os galardões da razão colonial e do pensamento abstrato.
Buscamos as estórias precárias de sobrevivência, as quais resistem somente por conta de coletivos interdependentes e multiespecíficos, no desfazimento de heranças moderno-coloniais que limitam a imaginação política, atualizando, como nos mostra Malcolm Ferdinand (2022), a racialização que produziu os porões dos navios negreiros e a mítica redenção das arcas de Noé. A separação entre o humano e o não humano é concomitante e condição para a colonização e colonialidades (Espinosa-Miñoso, 2016, 2020). Não há como carregar sementes para germinação de mundos outros apenas em derivação teórica com autoras que estão ocupando espaços hegemônicos.
Recorrendo a Ursula Le Guin (1986/2023), situamos o gesto da coleta como uma prática de cuidado que se dá numa língua materna, na qual respostas são ouvidas ou esperadas (não se trata da imposição de um único modo de narrar), que se dá, por exemplo, na imaginação política antirracista de Octavia Butler (2018), ao incorporar a cosmologia Yorubá nas narrativas de ficção científica. Diferentemente da língua paterna, que reivindica uma relação nobre com uma pretensa realidade, fundada em dicotomias — falada e ensinada por homens brancos, a língua materna, ao revés, opera no cotidiano — “É conversa, a palavra cuja raiz significa ‘virar junto’. A língua materna é a linguagem não como mera comunicação, mas como relação, relacionamento” (Le Guin, 1986/2023, p. 06). Essas reflexões sobre língua materna são feitas no contexto de um discurso para formandas, no qual a autora agradece a diferentes mulheres feministas e as nomeia “desprofessoras”, “desmestras”, “desconquistadoras”.
Realidades alternativas a eixos de opressão moderno-coloniais podem ser acionadas pela ficcionalização, a qual abre caminhos a quem se inclina à coleta como gesto especulativo. Octavia Butler (2017) num gesto de especulação radical, enche os seus cadernos de notas para a escrita do romance Kindred: Laços de Sangue, com lembretes tais como: “Aumente o número de sobrenomes hispânicos!” Ao lado do que, tradicionalmente, ocupa as escritoras de ficção científica, a exemplo das notas sobre as características mutantes das personagens que também aparecem com nitidez, nos cadernos da escritora, constavam lembretes sobre negritude e vivências latinas, nos Estados Unidos.
Octavia Butler trouxe para a ficção científica a escravização e, desde o ponto de vista de uma personagem negra, Dana, refez o tropo da “viagem no tempo” comum à ficção científica, como uma trajetória de dor e reparação. Nas diferentes viagens ao passado escravagista, Dana se enfrenta com a necessidade de sobreviver e voltar a sua casa, e isto, numa sociedade escravagista, requer delas reflexões e estratégias. Na bolsa, a personagem Dana viaja, inicialmente, com um canivete e, posteriormente, com uma faca:
Enrolei algumas calças jeans e as enfiei na bolsa. Depois disso, sapatos, camisas, uma blusa de lã, pente, creme dental e escova de dentes (Kevin e eu sentimos muita falta destes dois últimos), dois sabonetes grandes, minha toalha, o frasco de aspirinas (se Rufus me chamasse enquanto minhas costas estivessem doloridas, eu precisaria delas), minha faca. A faca tinha voltado comigo porque eu por acaso a levava em uma bainha de couro em meu tornozelo (Butler, 2017, p. 256).
A teoria como bolsa de ficção nos permite girar a atenção às mulheres coletoras que carregam uma bolsa, uma faca, ou algo que o valha, sem a pretensão do triunfo bélico, da resolução ou do êxtase. As bolsas não são as mesmas. As bolsas de Ursula Le Guin e Octavia Butler, por exemplo, são bem diferentes. Ambas convidam a conversações, torções, germinações. Donna Haraway (2023a, p. 214), leitora de ficção científica, tece os diálogos com as contribuições de Le Guin e de Octavia Butler, para estudar o que chama de “sabedoria situada, mortal e germinal de que necessitamos”. Importa não apenas o que pensamos, mas com quem e como o escrevemos. As teorias e estórias de Ursula Le Guin, propõe Donna Haraway (2022, p. 214), “são bolsas espaçosas para coletar, carregar e contar o estofo do viver.”; as de Octavia Butler, frisa Donna Haraway (2023a, p. 217), são carregadas de fardos imensos, pois o conjunto da sua obra “está cravado no problema da destruição e do florescimento ferido — e não apenas na sobrevivência — no exílio, na diáspora, na abdução e na transportação”.
Nossas experiências e localizações na produção de conhecimentos, como alerta Donna Haraway (2023b), atravessadas desigualmente pela racialização, não são autoevidentes e disponíveis, como se pudéssemos coletá-las, bastando “olhar para dentro”; ao contrário, as experiências são semiótico-materiais e se dão na produção da diferença. O gesto da coleta é de ordem generativa e performativa. O que conta como experiência — experiência de mulheres — depende das tecnologias narrativas das quais lançamos mão e das narrativas com as quais estas se articulam, na trama das alianças e composições, não coincidindo, portanto, com narrativas fechadas, localizações fixas ou com uma resposta inequívoca ao “apelo pela transparência” (Galindo e Fernandes, 2021).
Para elucidar formas de semear mundos em práticas de escrita de ficção fabulativa, Donna Haraway (2019) recorre a algumas estórias de Octavia Butler, como A Parábola do semeador, que conta o caso de uma adolescente que sai de um mundo destruído para semear uma nova comunidade, com base em uma religião chamada de Earth Seed/Semente da Terra. Conforme Haraway (2019), a Earth Seed acredita que, mesmo diante de paisagens destruídas, pode haver o florescimento da vida. Mas, alerta que não são estórias que miram transcendentalidade: “minha própria escrita trabalha e joga somente sobre a terra, no lodo de ciborgues, cachorros, árvores de acácia, formigas, micróbios, fungos e todos seus parentes e sua descendência” (p. 185, tradução nossa).
É por esse caminho que Ursula Le Guin (1969/2014) nos conduz a pensar no “E se…” Um outro mundo, um outro modo de contar estórias foi acionado… A narrativa de ficção científica de Le Guin é condizente com o sentido de SF (fabulação especulativa) que Isabelle Stengers (2018) preconiza e que Donna Haraway (2023a) constrói. E ambas as autoras reconhecem e referenciam a escritora. Assim, observamos, de forma séria, a recomendação de Haraway (2023a), quando frisa ser importante levar em conta com que estórias nos aliamos para contar outras estórias; ora, jornadas heroicas de guerra compõem um imaginário masculinista heroico de mundo, mundos de guerra, de morte e, definitivamente, não é essa a narrativa a que queremos nos aliar, porque estamos do lado da resistência e é por isso que nossa narrativa, durante essa semeadura, será conduzida pela proposição da bolsa coletora de Ursula Le Guin (2021).
As ideias que os humanos homens brancos colonizadores criaram de evolução, progresso e distinção dos demais seres do mundo têm conduzido a uma narrativa insensível a outras estórias presentes entre povos marcados por estórias coloniais sangrentas. O herói, que está determinado a conquistar, não tem tempo de parar para coletar. A história das ciências modernas é herdeira de narrativas heroicas traduzidas pela busca das grandes descobertas que ignoram as práticas de saber cultivadas por mulheres, povos negros e indígenas, sob égide do sacrifício. Haveríamos, numa lógica colonial, de sacrificar alguns (mesmo que sejam maiorias, do ponto de vista quantitativo) por muitos (mesmo que estes sejam majoritariamente homens brancos, com concentração de recursos financeiros e responsáveis pelo que será considerado logro, a ser estendido àqueles definidos como alguns).
Isabelle Stengers (2015, p. 47) enfatiza que “compor com o capitalismo não tem sentido, trata-se de lutar contra seu domínio”, ou seja, pegamos a nossa bolsa, reunimos estórias que constroem formas de resistências, na tentativa de resistir às catástrofes que nos assolam. Contrariando a grande “jornada do herói”, a narrativa bolseira de Ursula Le Guin (1969/2014) esquiva-se das narrativas heróicas de guerra; no romance, a problemática está muito mais próxima de conflitos envolvendo a convivência com as diferentes interlocuções e conversações. Ou, nos termos usados por Vinciane Despret (2011), essas estórias comportam recomposição, novos agenciamentos e disseminação.
Por quanto tempo viveremos somente das conquistas do herói? Por quanto tempo ele irá sobreviver, obnubilando tantas pequenas e belas estórias? As narrativas inspiradas pela bolsa de ficções são muito sensíveis, concernentes a um tipo de cuidar relacionado a um trabalho que exige resistência, persistência, paciência, cuidado, seriedade e, principalmente, colaboração coletiva. Embora se trate de uma jornada difícil, não é sobre resignação: é sobre cultivar e esperar o melhor, mas coisas ruins também podem acontecer. Não é seguir em um único caminho, obstinado a chegar em um ponto. Não. Trata-se de se aventurar pelo caminho, se interessar, imaginar, construir, ganhar, perder: trata-se de vida e de morte.
As estórias bolseiras nunca terminam, elas somente vão se agrupando e crescendo, permitindo novas ramificações, como um agrupamento aberto. Em outras palavras, “semear mundos significa estender a história das espécies companheiras para incluir mais de sua incessante diversidade e seu problema urgente” (Haraway, 2019, p. 182, tradução nossa).
Semear e terraformar mundos com outros(as) viventes é uma tarefa difícil e perigosa: contém alegrias, mas também envolve perigos, construção e destruição. Para elucidar isso, Donna Haraway (2019) conta a história da formiga e das sementes de acácia. Chama atenção para o tipo específico de acácia que atrai a formiga: esta a carrega até o momento em que chega ao túnel da formiga, quando encontra um lugar para germinar e, assim, dar continuidade à vida que será uma rede de suporte a toda essa continuidade que as acácias sustentam. A formiga vai coletando alimentos, sementes que serão transportadas, talvez perdidas pelo caminho, talvez germinadas, contudo, pelos movimentos realizados, fazem diferença. Com efeito, esse é um relato de uma bolsa coletora em sua difícil tarefa de viver e morrer, quando pequenas ações importam muito, para seguir com o problema (Haraway, 2019), com modos menores de resistência, furtivos, ao invés de frontais (Bona, 2020). Estas não são estórias heroicas, nem estórias em favor da vida, nem em favor da morte: são estórias sobre simbiogênese, tecidas em responsividade.
A edição brasileira do livro The Carrier Bag Theory of Fiction adotou, em função de uma matriz afrodiaspórica, a nomeação Patuás para a expressão Medicine Blunds que, no trabalho de Ursula Le Guin, se refere às pequenas bolsas e/ou feixes utilizadas pelos povos originários norte-americanos com finalidades curativas e de proteção. Patuás consistem em pequenas bolsas de ficção que guardam a potência de apostar em mundos outros guardados cuidadosamente, sob um fio que pende do pescoço ou sob a pele de outra bolsa maior. É inegável, como pontua Malcolm Ferdinand (2022), a dificuldade que temos em pensar as fraturas colonial e ambiental, conjuntamente. De um lado, ambientalistas invisibilizam a colonização e a escravização, não fazendo das lutas anticoloniais e antirracistas elementos centrais da crise ecológica, e, por outro, as Ecologias, frequentemente, deixam de lado o colonialismo e as colonialidades. Não seria diferente com os gestos de pesquisa em Psicologia Social.
Isabelle Stengers (2002) recorda que uma das invenções primeiras das ciências modernas foi a de haver conjugado e particionado a poiesis radicada na paixão por fazer existir determinada realidade até então inexistente e o juízo que advoga a necessidade de que a realidade criada poeticamente seja um testemunho de sua própria existência. Dessa emergência bifurcada derivaria a autoria científica, situada como um estranho híbrido que mescla a poiesis na paixão por fazer existir e o juízo capaz de prestar um testemunho fidedigno de uma realidade que, pouco ou quase nada, guarda do movimento poético precedente.
Nessa partição, inclusive, a beleza foi excluída do método, com destaque para aquela que aparece no dia a dia e em meio às marcas da violência, de maneira que às narrativas de mulheres de grupos minorizados caberia, sobretudo, a dor e o compromisso com uma fidelidade ao esperado por olhos embranquecidos. Não estaríamos suficientemente vigilantes aos tensionamentos raciais, ao abordarmos a beleza? Christina Sharpe (2019) afirma haver aprendido sobre a beleza como método, com a sua mãe, quando viviam numa cidade eminentemente branca e fortemente marcada pelo ódio antinegro. Indaga Sharpe (2019, p. 12): “Do que é feita a beleza?” Ao que responde: a beleza se dá como uma “Atenção sempre que possível a um tipo de estética que escape da violência sempre que possível — mesmo que seja apenas o arranjo perfeito dos alfinetes”. A beleza como método opera como um modo SF de atenção que reposiciona experiências.
Christina Sharpe (2019) vê a si, quando criança, como um receptáculo — um navio, um vaso — uma bolsa — para as narrativas sobre os anseios da sua mãe, que a deixavam sonhar entre palavras, numa casa marcada pela precariedade, pela vida experimentada nas decisões sobre pagar os impostos ou ter calefação. Ao revisitar cenas da infância, revisita, também, nas miúdas costuras da sua mãe, a beleza como um método que possibilita produzir (im)possíveis: “Tenho revisitado o que a beleza como método pode significar ou fazer: o que ela pode abrir, romper, tornar possível e impossível. Como podemos levar conosco o conhecimento da beleza e criar novos mundos” (Sharpe, 2019, p. 19). Desse modo, narrativas bolseiras são, também, reescrituras de passados em disputa ou mesmo dolorosos.
Ao abandonarmos o pesadelo moderno-colonial de criaturas autopoiéticas e autossustentáveis, em prol da figura da simpoesis e das estórias bolseiras, logramos reposicionar o lugar da fabulação e da ficção como algo mais que uma oposição ou escape a um real que lhe seria externo e oposto. Os usos do princípio narrativo da teoria da bolsa de ficção como dispositivo de pesquisa, para coletar/contar estórias, nos permitem conviver com problemas densos de um tempo marcado por catástrofes, sem recorrermos aos mesmos artifícios moderno-coloniais que nos conduziram até aqui. Nas grandes divisões moderno-coloniais, mulheres, sobretudo, não brancas e/ou empobrecidas, vêm sendo assimiladas àquelas que não produzem conhecimentos para além de uma dimensão considerada “local”, isto é, produziriam conhecimentos não universais e pouco voltados à conceituação.
Atravessar caminhos minados em um planeta ferido não é fácil, mas também não é impossível; exige fazer alianças, tecer redes úmidas capazes de ensejar a compostagem de mundos férteis epistemicamente. Ou seja, trata-se de um convite a um mundo onde proliferam “diferenças emergentes” e onde, portanto, não podemos presumir diferenças categóricas e hierarquizantes, por exemplo, entre animais humanos e não humanos, entre plantas, animais e humanos. Um convite a acompanhar como emergem os emaranhados que constituem os/as viventes e modos de viver em interdependência, bem como as práticas divisórias que os delimitam e produzem alteridades, nas quais a agência é distribuída entre viventes humanas e mais que humanas.
Como critério de validação para as estórias que narramos, a partir das bolsas de ficção que se desdobram bolsas/patuás, acompanhando Isabelle Stengers (2018), propomos como princípio de verificabilidade observarmos se e como as estórias que contamos permitem desacelerar os raciocínios moderno-coloniais e nos fazem pensar diferentemente problemas e situações que nos mobilizam como pesquisadoras, abrindo para a composição de mundos outros, alternativos a eixos de dominação moderno-coloniais.
Permanecemos, majoritariamente, presas das narrativas salvacionistas e heroicas herdeiras das promessas do humanismo moderno-colonial e de critérios especulares de validação. A teoria da bolsa de ficção cultiva a coleta de estórias que irão formar uma rede coletiva; sem ela, não sobreviveríamos para contar novas e outras, em companhia e colaboração com outras humanas e mais que humanas — a bolsa envolve uma narrativa coletiva, e não solitária, como a do herói.
Necessitamos, por conseguinte, ativar uma imaginação feminista e antirracista para alçarmos outras políticas de escrita e princípios narrativos que nos libertem do fardo da fatualidade e da heroicização antropocêntrica, trazendo para a escrita em Psicologia Social traços que nos aproximam do que, nas partições modernas colonialistas, denominamos ficções científicas, sem que, necessariamente, os textos que produzimos sejam submetidos ao critério de validação de uma outra área, a saber, a Literatura. E, isso não ocorre sem perigos, sem emboscadas, tampouco com apoio apenas em vozes eminentemente hegemônicas. Precisamos de bolsas remendadas, costuradas/suturadas.
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DOLORES GALINDO
Doutora em Psicologia Social pela PUC/SP. Professora Associada IV de Psicologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e docente permanente dos Programas de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT e Psicologia e Sociedade da UNESP/Assis. Núcleo Gestor INCT Caleidoscópio.
dolorescristinagomesgalindo@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2071-3967
FLÁVIA CRISTINA SILVEIRA LEMOS
Doutora em História Cultural pela UNESP. Professora associada IV na Universidade Federal do Pará (UFPA), atua na Graduação e no Programa de Pós-graduação em Psicologia/UFPA.
flaviacslemos@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-4951-4435
FERNANDA ZANATA
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Psicóloga educacional no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso campus Várzea Grande (IFMT-VGD).
fernandalzanata@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-9573-5768
RENATA VILELA RODRIGUES
Doutoranda pelo Estudos de Cultura Contemporânea pelo Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO/UFMT). Membro do Laboratório Tecnologias, Ciências e Criação da UFMT. Professora Titular do curso de Psicologia do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG).
renatavilelarodrigues2@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7756-3336
MORGANA MOURA
Doutora em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT. Vice-Líder do Laboratório Tecnologias, Ciências e Criação da UFMT.
morganammoura@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9891-1301
FORMATO DE CITACIÓN
Galindo, Dolores; Lemos, Flavia Cristina Silveira; Zanata, Fernanda; Rodrigues, Re-nata Vilela & Moura, Morgana (2024). “Realistas de uma realidade maior”: figurar-COM a bolsa de ficção em Psicologia Social. Quaderns de Psicologia, 26(2), e2001. https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2001
HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 26-01-2023
1ª revisión: 09-06-2023
2ª revisión: 23-02-2024
Aceptado: 11-03-2024
Publicado: 01-08-2024