Quaderns de Psicologia | 2024, Vol. 26, Nro. 2, e2100 | ISNN: 0211-3481 |
https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2100
Sophia Ivantes Rodrigues
Camila Cortellete Pereira da Silva
Leonardo Pestillo de Oliveira
Lucas França Garcia
Universidade Cesumar de Maringá
Resumo
Experiências adversas na infância são eventos de vida potencialmente impactantes ao desenvolvimento e podem ter efeitos de longo prazo na saúde. O objetivo deste trabalho foi compreender as mudanças biopsicossociais em crianças e adolescentes que vivenciaram conflitos armados. Trata-se de uma revisão da literatura, que teve como pergunta de pesquisa: “Quais as mudanças biopsicossociais podem ser identificadas em crianças que vivenciaram eventos traumáticos como guerras e conflitos armados de larga escala”. Foram incluídos na amostra 25 artigos originais de pesquisa. Foram construídas quatro categorias temáticas por meio da análise de conteúdo de Bardin: “Adolescentes e coping: a promoção da resiliência”, “Maternidade, desenvolvimento e guerra”, “Intervenções comunitárias, suporte social e estratégias de coping” e “Desenvolvimento infantil: consequências da guerra”. Os estudos ressaltam a importância do desenvolvimento e utilização de diferentes estratégias para a promoção da saúde mental de crianças e adolescentes expostos a conflitos armados.
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil; Modelos biopsicossociais; Guerras e conflitos armados; Violência
Abstract
Adverse childhood experiences are potentially impactful life events on development and can have long-term effects on health. The aim of this work was to understand the biopsychosocial changes in children and adolescents who have experienced armed conflicts. This is a literature review that addressed the research question: “What biopsychosocial changes can be identified in children who have experienced traumatic events such as large-scale wars and armed conflicts?” Twenty-five original research articles were included in the sample. Through Bardin’s content analysis, four thematic categories were identified: “Adolescents and coping: promoting resilience,” “Motherhood, development, and war,” “Community interventions, social support, and coping strategies,” and “Child development: consequences of war.” The studies highlight the importance of developing and using different strategies for promoting the mental health of children and adolescents exposed to armed conflicts.
Keywords: Child development; Biopsychosocial models; Wars and armed conflicts; Violence
No final do século XVIII e início do XIX, a percepção que se tinha da criança foi gradualmente se modificando e a concepção de infância como uma etapa distinta da vida se consolidou cultural e socialmente (Wells, 2021). Dessa forma, a criança passou a ser reconhecida como um indivíduo cujo crescimento se dá por meio de uma sucessão de fases intelectuais e emocionais (Colliver e Veraksa, 2021). Portanto, a noção de infância e o entendimento sobre o desenvolvimento infantil têm evoluído significativamente ao longo do tempo, reconhecendo as crianças como indivíduos com direitos e necessidades próprias, cujo bem-estar depende de um conjunto de fatores biológicos, psicológicos e sociais interligados (Wells, 2021).
O desenvolvimento infantil é influenciado por fatores ambientais, como nutrição, saúde e segurança. Contudo, em contextos de guerras e conflitos armados, o desenvolvimento infantil enfrenta desafios sem precedentes, uma vez que esses eventos traumáticos não apenas interrompem a vida cotidiana, mas também impõem sérias ameaças à saúde e à segurança das crianças (Goto et al., 2021). Os conflitos armados também podem ter um impacto significativo no desenvolvimento infantil, afetando 1 em cada 10 crianças em todo o mundo (Kadir et al., 2018). Nesse sentido, as guerras podem romper o suporte familiar, comunitário e a participação ativa na educação, que são essenciais para o desenvolvimento integral (Goto et al., 2021). Além disso, o trauma, a violência, a pobreza e a institucionalização podem levar a atrasos no desenvolvimento.
Os impactos causados a essas crianças são ferimentos, doenças, traumas psicológicos e mortes; e indiretamente incluem fatores sociais, políticos, econômicos e ambientais. Ademais, é fundamental reforçar os fenômenos de migração e imigração decorrentes da guerra: os conflitos armados obrigam inúmeras famílias a deixarem as suas casas em busca de segurança, possibilitando a separação de crianças de seus pais ou responsáveis durante essas fugas (Kadir et al., 2019).
A exposição a conflitos armados está associada a um maior risco de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes, incluindo problemas internalizados e externalizados em crianças de um a quatro anos, e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e depressão em crianças mais velhas. Estudo realizado na Palestina sugere que as crianças pequenas podem ser mais vulneráveis a esses efeitos, devido à sua imaturidade física e emocional (Goto et al., 2021).
A relevância do tema escolhido para este estudo não pode ser subestimada, dada sua significância tanto do ponto de vista social quanto científico. No entanto, para compreender plenamente o impacto dos conflitos armados no desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes, é essencial situar nossa investigação dentro do contexto histórico-político em que esses conflitos ocorrem. Nos últimos anos, o mundo tem testemunhado uma série de conflitos armados, desde a crise na Síria até o recente aumento de tensões na Ucrânia e na Palestina, que não são apenas manifestações de disputas geopolíticas, mas também geram uma crise humanitária global. Essas situações de conflito, caracterizadas pela violência, deslocamento forçado e a destruição de infraestruturas básicas, representam uma “emergência global” com profundas consequências para a saúde mental e física das populações afetadas, especialmente as crianças e os adolescentes. Ao situar nosso estudo dentro deste contexto, buscamos não apenas destacar as transformações biopsicossociais experimentadas por esses jovens, mas também contribuir para um entendimento mais aprofundado sobre as complexas dinâmicas que envolvem os conflitos armados contemporâneos e seu impacto nas gerações futuras. Dentro deste contexto, faz-se necessária, portanto, uma maior compreensão das mudanças e dificuldades vivenciadas por crianças que experienciaram conflitos armados a fim de identificar e desenvolver estratégias de cuidado e acolhimento eficazes, bem como promover o acesso a terapias psicológicas especializadas que possam auxiliar no desenvolvimento integral destas crianças e adolescentes. O objetivo deste artigo, em concordância com essa emergência global, é compreender as mudanças biopsicossociais em crianças que vivenciaram guerras ou conflitos armados.
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que seguiu na íntegra as recomendações e diretrizes do PRISMA 2020 (Kadir et al., 2018). A pergunta de pesquisa, que orientou a coleta e análise de dados, foi: “Quais as mudanças biopsicossociais podem ser identificadas, na literatura especializada recente, em crianças que vivenciaram eventos traumáticos como guerras e conflitos armados de larga escala”. Na busca foram utilizados os descritores em inglês e português, de acordo com os Descritores em Ciências da Sáude (DECS): “children, effects of war, terrorism, traumatic stressors, trauma, children and early adolescents, emotional difficulties, post-traumatic stress disorder, posttraumatic stress, violence, war” e “psychopathology” nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS)1, National Library of Medicine (PUBMED)2 e Scopus3 para a coleta de dados.
Foram incluídos na amostra final: artigos publicados nos últimos 5 anos (2018-2022); com dados primários e em português e em inglês. Foram excluídos da amostra artigos de editorial; de ponto de vista; de revisão da literatura; resenhas e artigos que não estavam disponíveis para download. Os artigos foram exportados das bases de dados acima mencionadas para posterior triagem e análise no site Rayyan4 no mês de março de 2022. Na primeira etapa da triagem, foram analisados o título e o resumo dos artigos, para a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Após a aplicação destes critérios, todos os artigos disponíveis para download foram analisados na íntegra com o auxílio do software QSR NVIVO® 145, para a organização, análise e produção dos resultados de acordo com as etapas preconizadas pela análise de conteúdo de Laurence Bardin (2011).
Na primeira etapa de triagem, foram analisadas 4495 referências pelo título. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas 174 referências para a segunda etapa. Após a leitura do resumo e das palavras-chave, foram incluídas 62 referências para download e leitura na íntegra. Destas, apenas 25 atenderam os critérios de inclusão do estudo (Figura 1) e foram analisados de acordo com a análise de conteúdo de Laurence Bardin (2011).
A análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa utilizada para interpretar dados textuais de maneira sistemática e objetiva, por meio da categorização e quantificação de elementos específicos dentro do texto. Esse método permite extrair significados, tendências e padrões a partir de uma ampla variedade de materiais, como documentos, artigos científicos, transcrições de entrevistas, publicações em mídias sociais, entre outros.
No contexto deste trabalho, a análise de conteúdo foi empregada para examinar a literatura científica sobre as mudanças biopsicossociais em crianças e adolescentes que vivenciaram guerras e conflitos armados. A utilização dessa técnica permitiu uma abordagem estruturada e objetiva na revisão dos 25 artigos originais de pesquisa selecionados. Utilizando a metodologia de análise de conteúdo de Laurence Bardin (2011), o processo envolveu a leitura detalhada dos textos, a identificação e codificação de unidades de significado relevantes para a pergunta de pesquisa, e a subsequente categorização dessas unidades em temas específicos.
Quatro categorias temáticas foram construídas dessa análise: “Adolescentes e coping: a promoção da resiliência”, “Maternidade, desenvolvimento e guerra”, “Intervenções comunitárias, suporte social e estratégias de coping” e “Desenvolvimento infantil: as consequências da guerra”. A análise de conteúdo, nesse estudo, possibilitou uma síntese abrangente e organizada dos conhecimentos atuais, destacando a importância do desenvolvimento e da utilização de estratégias diversificadas para a promoção da saúde mental desses jovens.
A partir da análise bibliométrica dos artigos, observa-se que há uma concentração de estudos por parte de pesquisadores europeus (n=14), seguidos da América do Norte (n=6), do Oriente Médio (n=3) e da Ásia (n=2). Observa-se, também, uma tendência crescente no número de publicações ao longo dos últimos cinco anos (2018–2022), com quase metade dos artigos publicados entre os anos de 2021–2022 (n=12). O total de citações dos 25 artigos analisados foi de 1813 no período de 2018–2022, sendo a média de citações de 70,08 (DP+44,37), com um mínimo de 22 e um máximo de 200 citações (Tabela 1).
Tabela 1. Informações dos 25 artigos incluídos na amostra e que foram analisados de acordo com a análise de conteúdo de Bardin (2011)
Autores |
Título |
Ano |
Periódico |
País |
Citações |
Shah e Mishra |
Trauma and children: Exploring posttraumatic growth among school children impacted by armed conflict in Kashmir. |
2021 |
The American journal of Orthopsychiatry |
Kashmir |
200 |
Kadir et al. |
Effects of armed conflict on child health and development: A systematic review |
2019 |
PloS one |
Suécia |
183 |
Michalek et al. |
The Effects of a Reading-Based Intervention on Emotion Processing in Children Who Have Suffered Early Adversity and War Related Trauma |
2021 |
Frontiers in Psychology |
UK |
121 |
Qouta et al. |
War trauma and infant motor, cognitive, and socioemotional development: Maternal mental health and dyadic interaction as explanatory processes |
2021 |
Infant Behavior & Development |
Qatar |
104 |
Akgül et al. |
The role of coping strategies in interpersonal identity development of war-affected immigrant adolescents |
2021 |
New Directions for Child and Adolescent Development |
Turquia |
88 |
Brault et al. |
Factors influencing rapid progress in child health in post-conflict Liberia: A mixed methods country case study on progress in child survival, 2000-2013 |
2018 |
BMJ Open |
USA |
86 |
Phadera, L. |
Unfortunate Moms and Unfortunate Children: Impact of the Nepali Civil War on Women’s Stature and Intergenerational Health |
2021 |
Journal of Health Economics |
USA |
82 |
Punamäki et al. |
The role of maternal attachment in mental health and dyadic relationships in war trauma |
2019 |
Heliyon |
Finlândia |
79 |
Kara e Selcuk |
The Role of Socioeconomic Adversity and Armed Conflict in Executive Function, Theory of Mind and Empathy in Children |
2021 |
Child Psychiatry and Human Development |
UK |
79 |
Veronese et al. |
Narrating hope and resistance: A critical analysis of sources of agency among Palestinian children living under military violence |
2018 |
Child: Care, Health and Development |
Itália |
73 |
Amone-P’Olak e Elklit |
Interpersonal sensitivity as mediator of the relations between war experiences and Mental Illness in war-affected youth in Northern Uganda: Findings from the WAYS study |
2018 |
Traumatology |
Dinamarca |
66 |
Punamäki et al. |
Maternal pre-and postnatal mental health and infant development in war conditions: The Gaza Infant Study. |
2018 |
Psychological Trauma: Theory, Research, Practice and Policy |
Finlândia |
63 |
Akseer et al. |
Association of Exposure to Civil Conflict with Maternal Resilience and Maternal and Child Health and Health System Performance in Afghanistan |
2019 |
JAMA network open |
Canada |
62 |
Purgato et al. |
Trajectories of psychological symptoms and resilience in conflict-affected children in low-and middle-income countries |
2020 |
Clinical Psychology Review |
Itália |
54 |
Ali e Shaffie |
Lessons from Post-War Experience: An Alternative Care Interventions for War-affected Children in Pakistan |
2021 |
Child Development |
Malásia |
51 |
Kreif et al. |
The impact of civil conflict on child health: Evidence from Colombia |
2022 |
Economics & Human Biology |
UK |
49 |
Sim et al. |
Pathways linking war and displacement to parenting and child adjustment: A qualitative study with Syrian refugees in Lebanon |
2018 |
Soc Sci Med. |
UK |
47 |
Goto et al. |
Armed conflict and early childhood development in 12 low- nd middle-income countries |
2021 |
Pediatrics |
Japão |
43 |
Betancourt et al. |
The intergenerational impact of war on mental health and psychosocial wellbeing: Lessons from the longitudinal study of war-affected youth in Sierra Leone |
2020 |
Conflict and Health |
USA |
38 |
Beijers et al. |
Exposure to War Prior to Conception: Maternal Emotional Distress Forecasts Sex-Specific Child Behavior Problems |
2022 |
International Journal of Environmental Research and Public Health |
Países Baixos |
38 |
Ojok |
“Every Child Is Special…”: Perspectives on the Integration of Children Born of War and Their War-Affected Peers at a Local School in Northern Uganda |
2022 |
Frontiers in Political Science |
UK |
35 |
Karam et al. |
Role of childhood adversities and environmental sensitivity in the development of post-traumatic stress disorder in war-exposed Syrian refugee children and adolescents |
2019 |
The British Journal of Psychiatry: The Journal of Mental Science |
Líbano |
32 |
Nguyen et al. |
Exploring the Daily Lives and Well-Being of Orphaned Adolescents Affected by the Armed Conflict in Thailand’s Deep South |
2021 |
Journal of Adolescent Research |
USA |
32 |
Özer et al. |
Children facing war: their understandings of war and peace |
2018 |
Vulnerable Children and Youth Studies |
Turquia |
25 |
Lee et al. |
Mental health and psychosocial problems among conflict-affected children in Kachin State, Myanmar: A qualitative study |
2018 |
Conflict and Health |
USA |
22 |
Após a leitura e análise de conteúdo dos artigos, os mesmos foram agrupados em quatro categorias temáticas: “Desenvolvimento infantil: as consequências da guerra” (n=11); “Adolescentes e coping: a promoção da resiliência” (n=2); “Maternidade, desenvolvimento e guerra” (n=6) e “Intervenções comunitárias, suporte social e estratégias de coping” (n=6).
Esta categoria investigou os impactos biopsicossociais dos conflitos armados no desenvolvimento das crianças, que são e estão particularmente vulneráveis às adversidades geradas por tais eventos. Enfrentando desafios que vão desde traumas psicológicos e interrupção educacional até desnutrição e exposição a violências, essas experiências têm o potencial de alterar significativamente suas trajetórias de desenvolvimento. Este segmento do artigo visa elucidar tanto os efeitos deletérios quanto as estratégias de resiliência, sublinhando a importância de intervenções e políticas eficazes para proteger e promover o bem-estar e a recuperação das crianças em zonas de conflito, enfatizando a necessidade de um futuro mais seguro e saudável para essa população vulnerável.
Os conflitos armados são compreendidos como disputas organizadas que transcendem a intervenção e participação exclusiva de atores estatais. Empregam do uso bélico, atos violentos e da força, seja dentro de fronteiras nacionais ou externas. Guerras civis, internacionais e conflitos entre diferentes grupos, como os conflitos que envolvem narcóticos, caracterizam-se como conflitos armados. 90% das baixas derivadas desse fenômeno, no século XXI, tratavam-se de civis e, em grande número, de crianças (Kadir et al., 2019).
Desde a origem armamentista, as crianças tornam-se frequentes vítimas de guerras e conflitos armados (Ali e Shaffie, 2021). As manifestações contemporâneas que envolvem a guerra frequentemente transformam áreas civis em palcos para os seus confrontos, tornando o cenário alarmante para o desenvolvimento e bem-estar infantil. Por meio de estratégias que englobam a disseminação de medo em larga escala e praticando atos de ameaça à vida, os conflitos armados avassalam os conceitos que comunidades e famílias possuem quanto à segurança e expõem as crianças civis a condições extremamente traumáticas (Slone e Peer, 2021).
Ao experienciarem situações de violência direta ou indireta tornam-se comuns entre as crianças vítimas desses conflitos a identificação de altos índices de TEPT, depressão e ansiedade (Lee et al., 2018). Exposições à violência em curto prazo e em grupos armados que surgem de forma intermitente representam maiores potenciais traumáticos, segundo estudo realizado com crianças colombianas (Kreif et al., 2022). Além do ciclo de sobrevivência em que se encontram, as crianças impactadas igualmente identificam-se aos estados de apátrida (Ali e Shaffie, 2021) e enfrentam dificuldades quanto aos constructos relacionados à memória e atenção (Kara e Selcuk, 2023).
Os espaços considerados seguros para as crianças como as escolas, hospitais e recreações são comumente alvejados por tiroteios, saques e ataques propositais por parte dos combatentes, apesar das Nações Unidas identificarem o ataque a escolas e hospitais como transgressões flagrantes dos Direitos Humanos. A interrupção do sistema de vacinação e acesso ao tratamento odontológico, por exemplo, sinalizam sérias falhas na saúde local (Kadir et al., 2019).
A falta de acesso à educação nos primeiros anos de vida, associada à exposição prolongada a conflitos armados, agrava significativamente os impactos socioemocionais em crianças, especialmente notado após cinco anos de exposição à guerra (Goto et al., 2021). Segundo pesquisa com crianças do leste da Turquia, os conflitos armados não se relacionam tanto com a teoria da mente, mesmo que se relacionem com os constructos da empatia (Kara e Selcuk, 2023). Nesse enquadramento, Elie Karam et al. (2019) buscaram analisar papéis relativos à guerra, às adversidades na infância e à sensibilidade na origem do TEPT. Constatou-se, através dos resultados, que os efeitos da guerra no TEPT demonstram uma dependência da somatória entre as adversidades na infância e a sensibilidade pessoal, mesmo que o TEPT possua um maior direcionamento quanto ao primeiro tópico citado.
As vivências advindas da guerra se relacionavam ao TEPT dos jovens através da sensibilidade interpessoal aponta que esta é uma determinante chave dos problemas de saúde mental em jovens anteriormente sequestrados no norte de Uganda (Amone-P’Olak e Elklit, 2018). Dentro dessa lógica, Theresa Betancourt et al. (2020) constataram que crianças que mataram ou feriram durante a guerra em Serra Leoa demonstram índices menores de sociabilidade, enfrentando estigmas sociais após os conflitos. Aqueles que relataram ter sido estuprados apresentaram ansiedade e depressão aumentadas após a guerra. O agravamento dessas condições ao longo do tempo também se relacionou as dificuldades sociais e econômicas pós-conflito. O grupo “Socialmente Vulnerável” (“socially vulnerable”, no original) do estudo, que experimentou o estigma mais persistente e a menor aceitação familiar e comunitária, apresentou maior risco de ansiedade/depressão acima do limiar clínico, possível TEPT e mostrou-se cerca de três vezes mais propenso a tentativas de suicídio (Betancourt et al., 2020).
Em Serra Leoa, os sintomas de discriminação pós-guerra relacionavam-se com os atos cometidos durante os conflitos. Esses resultados indicam que o apoio social, familiar e as oportunidades econômicas e educacionais influenciam diretamente em fatores relacionados à saúde mental, e destaca-se, como exposição de casos, que a participação forçada de crianças em conflitos gera um notório impacto em seu desenvolvimento pessoal (Frounfelker et al., 2019).
Condições de vida inadequadas e perigos ambientais, como edifícios danificados e munições não detonadas, além da falta de acesso à água potável e saneamento, posicionam as crianças em situações de risco de contágio de doenças e lesões que poderiam ser preveníveis e tratáveis. A destruição da infraestrutura médica e de saúde pública torna difícil o tratamento das crianças afetadas, limitando tanto o acesso quanto a qualidade dos cuidados disponíveis (Kadir et al., 2019). Em regiões de maiores conflitos no Afeganistão durante a reconstrução do país, datada entre 2003 e 2018, o desenvolvimento dos processos de vacinação (destaca-se o sarampo), contraceptivos e de assistência ao parto, além de outras áreas, foram precariamente realizados (Akseer et al., 2019).
O cruzamento de fronteiras e a busca por refúgios tem crescido significativamente nos últimos anos, contribuindo com o aumento da população imigrante em diversos países. Dentre eles, o Brasil é frequentemente um dos territórios escolhidos, no qual, de acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (Ministério da Justiça e da Segurança Pública, 2023), de 2011 a 2019, foram registrados 1.085.673 imigrantes no Brasil. Dentre os que buscam por uma nova moradia, identifica-se a necessidade de uma maior atenção às crianças em processo de migração, pois compreende-se que elas se encontram em um período de formação e tais mudanças advindas de situações traumáticas podem trazer danos significativos ao seu desenvolvimento biopsicossocial.
Conforme reportado pela UNICEF Brasil (2022), a migração forçada de crianças, resultante de conflitos globais, incluiu mais de 1,5 milhões de crianças que fugiram da Ucrânia devido ao conflito em andamento com a Rússia. Entre essas, mais de 75 mil obtiveram oficialmente o status de refugiadas. A cada minuto, 55 crianças fogem do país; ou seja, quase a cada segundo uma criança ucraniana se torna refugiada. A vida em ambientes intensamente militarizados e deprimidos economicamente apresentam impactos, além dos já mencionados, dentro da vida religiosa e trabalhista (Nguyen et al., 2021), acarretando altos fluxos migratórios.
As crianças submetidas a deslocamentos ainda enfrentam condições graves relacionadas a falta de medicamentos, necessidades básicas e alimentos, assim como elevadas escalas de TEPT (40%) e depressão (50%). Desafios inerentes a discriminação racial, assédio, pobreza e dificuldades linguísticas subsistem mesmo após a fixação dessas crianças refugiadas em novos territórios (Michalek et al., 2021).
Outrossim, o elevado risco de tráfico e exploração sexual emerge como um desafio alarmante que assola crianças envolvidas em cenários de guerra. Essa condição entrelaça-se com o alto risco de isolamento, que inclui casos em que irmãos e pais fugiram dos países de residência ou tornaram-se soldados. Destaca-se também a ocorrência da “perda ambígua”, na qual a criança passa pela perda de ambos os pais, levando-as comumente para situações de rua, como em casos que são consideradas ilegítimas por natureza (Ali e Shaffie, 2021).
O estudo de Catherine Lee et al. (2018) conclui que entre as crianças e adolescentes do acampamento de Cachim, Birmânia, encontram-se sujeitos com problemas de comportamento, uso de substâncias (metanfetamina, tabaco, heroína, cola e álcool), sentimentos de tristeza, desesperança e depressão. As entrevistas descritas expõem interconexões entre esses elementos em decorrência dos efeitos da guerra, e os comportamentos que englobam roubos, bullying, atos de mentir, xingar e faltas nas escolas, apresentam relações com tópicos como a pobreza, nutrição e discriminação, sofrendo influência da economia familiar, de filmes e da ânsia por evasão escolar a fim da participação em jogos de azar. Ademais, igualmente relacionam-se com eventos específicos, incomuns e individuais.
Esses comportamentos geram consequências como a punição física por parte dos pais e professores, em casos em que ocorriam brigas e discussões, e a preocupação com a aparência social da família. Trata-se, no geral, quanto aos efeitos da guerra, de uma constelação de problemas sociais e econômicos que englobam os sintomas de estresse pós-traumático e de demais sintomas como distúrbios no sono (Lee et al., 2018). Entretanto, Habibullah Shah e Arvind Kumar Mishra (2021) observaram que as crianças vítimas de conflitos armados são capazes de executarem um positivo desenvolvimento pessoal mesmo após a perda dos pais — entretanto, igualam-se muitas vezes aos adultos por conta da cultura local, o que agravava tais condições. Também se destaca que crianças orientais possuem altas taxas de crescimento pós-traumático por conta dos contextos socioculturais das sociedades sul-asiáticas, sugerindo o papel desempenhado pelos fatores socioculturais no desenvolvimento do crescimento pós-traumático.
Serap Özer et al. (2018) investigaram como crianças expostas à guerra e as crianças não expostas à guerra representam a guerra e a paz em seus desenhos. Os pesquisadores compararam as frequências de categorias de desenhos de 357 crianças sírias expostas à guerra (residentes de um campo de refugiados em Gaziantep, Turquia) e 285 crianças turcas não expostas à guerra (alunas de escolas públicas em Istambul, Turquia). Os resultados mostraram que as crianças expostas à guerra desenhavam mais armas e atividades de guerra, enquanto as crianças não expostas à guerra desenhavam mais imagens positivas e relacionadas à paz. A idade, o gênero e a exposição à guerra influenciaram na frequência das imagens desenhadas.
Nota-se que as gerações presentes em conflitos armados não são as únicas impactadas pelos produtos da guerra que vivenciaram. De acordo com Amanda Sim et al. (2018), a saúde mental e o bem-estar dos cuidadores e responsáveis dentro do ambiente familiar influenciam em notoriedade no desenvolvimento e na saúde das crianças do grupo, gerando um ciclo de adversidades, levando a consequências longínquas e duradouras. Através de entrevistas individuais e grupais realizadas com 38 pais sírios e 15 crianças, localizadas por instituições do Líbano durante o ano de 2016, os autores constataram que as dificuldades econômicas levam a menor atenção aos filhos e a “forçarem” determinada adaptação deles. Além disso, o sofrimento psíquico dos pais leva a severidade parental e inseguranças que acarretam o controle parental.
A relação entre o bem-estar materno, o desenvolvimento infantil e os contextos cotidianos emergem como um tema central na análise desta categoria, pois destaca como as experiências e o estado psicoemocional das mães em zonas de conflito armado têm um impacto direto e profundo no desenvolvimento físico, emocional e cognitivo de seus filhos. O estresse e trauma vivenciados pelas mães não apenas afetam sua capacidade de fornecer cuidados e suporte adequados, mas também influenciam o ambiente em que as crianças crescem, modelando suas experiências diárias e, por extensão, seu desenvolvimento global. Assim, reconhece-se que o bem-estar materno e o ambiente doméstico, frequentemente perturbados por adversidades como guerra e deslocamento, são fatores críticos que moldam a trajetória do desenvolvimento infantil, destacando a necessidade de abordagens integradas de apoio que considerem tanto as necessidades das mães quanto as de suas crianças.
As consequências da exposição a conflitos armados englobam alterações biológicas e hormonais no desenvolvimento fetal, além da dificuldade materna em identificar e reconhecer as necessidades que o bebê apresenta (Punamäki et al., 2018). A mortalidade infantil, o parto prematuro e o baixo peso no nascimento igualmente mostram-se presentes nesse cenário, indicando problemas de sono no bebê e na ligação entre mãe e filho — em correlação, o luto materno aos seis meses anteriores ao momento do parto liga-se ao aumento da taxa de risco do desenvolvimento do TDAH6 em crianças do sexo masculino (Beijers et al., 2022).
O estresse materno, durante o período gestacional, apresenta sérios riscos ao desenvolvimento infantil, e sintomas relacionados ao TEPT, depressão e elevados riscos obstétricos fazem-se presentes na vida dessas mães (Punamäki et al., 2018). Quando altos níveis de sofrimento emocional se relacionam com a preconcepção, os índices de baixa interatividade entre a mãe e o bebê e de comportamentos adaptativos vinculam-se a altos índices de ansiedade materna quanto a possíveis separações do filho (Beijers et al., 2022).
A vigilância e a intensidade emocional das mães pareceram benéficos aos autores através da justificativa de que a intensificação de laços emocionais de hiper vigilância atua como forma de sobrevivência da díade, tanto em termos concretos, quanto nos formatos próprios de interação (Punamäki et al., 2019). As condições maternas entrelaçam-se intimamente com o bem-estar infantil, impondo altos índices de vulnerabilidade tanto às mães quanto aos seus bebês (Punamäki et al., 2018).
Raija-Leena Punamäki et al. (2018) analisaram 511 mulheres palestinas da Faixa de Gaza — por meio dos resultados, constataram que a saúde mental materna favorável durante guerras, conflitos armados e situações com potencial traumático faz-se capaz de mediar os impactos negativos que irão acometer os recém-nascidos. De modo contrário, complicações e exposições à guerra durante a gravidez e no pós-parto são capazes de prejudicar o desenvolvimento dos seus respectivos filhos, mesmo que os mecanismos subjacentes de transmissão potencialmente sejam diferentes e que a exposição não atinja diretamente a criança em questão.
Sintomas de depressão e TEPT destacam-se entre as mães expostas aos eventos, além do aumento do risco de aborto espontâneo e hipertensão durante a gravidez, mesmo que a exposição não se direcione ao baixo peso ou prematuridade do recém-nascido (Punamäki et al., 2018). Entretanto, ao vivenciar a exposição durante a primeira infância, as mulheres vítimas de conflitos costumam ter mais filhos e adentrar em relações mais precárias quanto aos âmbitos de afeto e amor (Phadera, 2021).
Samir Qouta et al. (2021) investigaram a relação entre a exposição a conflitos armados durante a fase pré-natal e o desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional infantil. Os autores recrutaram 502 mulheres palestinas expostas a conflitos durante a gravidez, parto ou primeira infância. Os resultados mostraram que a exposição pré-natal não teve efeito significativo no desenvolvimento infantil. No entanto, a exposição durante a primeira infância foi associada a menores habilidades motoras, cognitivas e socioemocionais, especialmente em crianças que foram expostas a níveis mais altos de conflito (Qouta et al., 2021).
Roseriet Beijers et al. (2022) observaram que o sofrimento de crianças de mães que passaram por traumas dessa espécie em seu período pré-concepcional altera-se em dependência do gênero: as crianças do sexo feminino apresentam maiores problemas resultantes ao comportamento de internalização e externalização, assim como dificuldades quanto à regulação do comportamento.
A terceira categoria examinou a complexidade da adolescência como uma fase de desenvolvimento crítica, marcada por desafios e oportunidades únicas, especialmente em contextos de conflito armado. O conceito de coping, ou estratégias de enfrentamento, refere-se aos esforços cognitivos e comportamentais empregados para gerenciar as demandas internas e externas que são avaliadas como estressantes ou excedem os recursos pessoais. No cenário de guerras e conflitos, os adolescentes recorrem a uma variedade de estratégias de coping para lidar com experiências traumáticas, influenciando diretamente sua capacidade de resiliência, ou seja, a habilidade de se recuperar e adaptar-se diante de adversidades. Este item demanda uma discussão aprofundada, dado seu papel fundamental na configuração dos traumas vivenciados por adolescentes em zonas de conflito e na superação destes. O entrecruzamento entre adolescência, coping e resiliência destaca a importância de entender como as estratégias de enfrentamento adotadas podem tanto mitigar quanto exacerbar os impactos dos traumas, apontando para a necessidade de intervenções direcionadas que reforcem a resiliência e promovam o desenvolvimento saudável durante este período crítico da vida.
Gülendam Akgül et al. (2021) buscaram examinar o papel do coping no desenvolvimento da identidade interpessoal entre adolescentes imigrantes, por meio de um estudo longitudinal de duas fases com um intervalo de 4 meses. Os autores abordaram em sua pesquisa um total de 93 participantes que migraram para a Turquia devido a conflitos armados em seus países de origem, residindo atualmente nos subúrbios de Ankara. Entre os resultados, os autores não identificaram nenhuma estratégia específica para as facetas de identidade interpessoal, mesmo que alguns tópicos específicos exibam efeitos na questão da identidade.
Marianna Purgato et al. (2020) investigaram a associação entre exposição a conflitos armados e sintomas de TEPT, ansiedade e depressão em crianças e adolescentes. Os autores recrutaram 597 participantes de quatro países: Burundi, Indonésia, Nepal e Sri Lanka. Os resultados mostraram que a exposição a conflitos armados foi associada a maiores sintomas de TEPT, ansiedade e depressão. No entanto, os autores também descobriram que as crianças e adolescentes têm a capacidade de se recuperar de experiências traumáticas. Mais de um terço dos participantes apresentaram melhoras nos sintomas após a intervenção. O estudo concluiu que intervenções específicas são necessárias para atender às necessidades de crianças e adolescentes que foram expostos a conflitos armados (Purgato et al., 2020).
A literatura atual sobre o impacto dos conflitos armados no desenvolvimento de adolescentes imigrantes afetados pela guerra revela uma complexa rede de tensões e convergências. Marianna Purgato et al. (2020) enfatizam a capacidade de resiliência e a adaptação psicossocial de crianças e adolescentes em contextos adversos, sugerindo uma potencialidade de recuperação e bem-estar apesar das experiências traumáticas. Por outro lado, Gülendam Akgül et al. (2021) exploram especificamente o papel das estratégias de coping no desenvolvimento da identidade interpessoal de adolescentes imigrantes, revelando que estratégias diferenciadas de coping têm implicações distintas para a formação da identidade. Enquanto Marianna Purgato et al. (2020) apontam para um espectro mais amplo de adaptação, Gülendam Akgül et al. (2021) detalham a dinâmica específica entre coping e desenvolvimento de uma identidade, destacando a necessidade de um olhar mais aprofundado sobre como esses processos interagem em contextos de migração forçada por conflitos.
A categoria de afrontamento e resiliência, particularmente destacada pelo estudo de Gülendam Akgül et al. (2021), introduz uma perspectiva inovadora na discussão sobre o desenvolvimento de adolescentes imigrantes afetados por guerras. O estudo identifica como diferentes estratégias de coping — solução de problemas, busca por suporte social e evitação — influenciam de maneira distinta o desenvolvimento da identidade interpessoal. Esse achado corrobora com a necessidade, também observada por Marianna Purgato et al. (2020), de abordar os mecanismos de resiliência e coping como fatores críticos na adaptação e no desenvolvimento saudável em contextos de adversidade extrema.
A quarta categoria enfatiza a importância das redes de suporte e das intervenções baseadas na comunidade na mitigação dos efeitos traumáticos de guerras e conflitos armados sobre indivíduos, especialmente crianças e adolescentes. Este segmento explora como o suporte social — proveniente de famílias, pares, comunidades e instituições — serve como um recurso vital para o coping eficaz, promovendo a resiliência diante de circunstâncias adversas. As intervenções comunitárias, que muitas vezes incluem programas educacionais, de saúde mental e de apoio psicossocial, são destacadas por sua capacidade de criar ambientes propícios à recuperação e ao desenvolvimento saudável. O entrelaçamento entre estas estratégias e o suporte social revela um panorama complexo, onde a coesão e a ação coletiva emergem como elementos chave na superação dos traumas.
Boniface Ojok (2022) realizou um estudo com 16 crianças nascidas em meio a guerra no norte da Uganda, incluindo meninas sequestradas de suas comunidades. As crianças participaram de atividades escolares para compreender suas experiências de integração em escolas locais no pós-guerra. Os resultados mostraram que as crianças se sentiam diferentes e prejudicadas, mesmo que essa sensação se refira a percepções pessoais. Elas apreciaram o comportamento dos professores, mas criticaram a falta de tempo para atividades extracurriculares. O estudo concluiu que a escola proporciona um ambiente de superações para essas crianças, mas que é necessário oferecer mais apoio para ajudá-las a lidar com os traumas da guerra (Ojok, 2022).
Asif Ali e Fuziah Shaffie (2021) investigaram como o governo e as ONGs do Paquistão, com base na Lei de Proteção da Criança de 2010 e 2016, promovem o bem-estar e a resiliência de crianças vítimas de conflitos armados. Os autores utilizaram análise temática da literatura, discussões em grupo e entrevistas semiestruturadas. Os resultados mostraram que as crianças respondem aos traumas de forma variada, com algumas manifestando desejo de vingança ou medo, enquanto outras demonstram resiliência. O vínculo familiar foi identificado como essencial para as crianças, que também enfrentaram diversos estressores, como preconceito, pobreza, doutrinação e separação, levando a pesadelos intensos.
Julia Michalek et al. (2021) compararam o reconhecimento e interpretação de emoções interpessoais entre crianças sírias refugiadas e crianças jordanianas não refugiadas. A eficácia de uma intervenção pautada na literatura dentro dessa comparação também foi analisada. Participaram do recrutamento 49 crianças sírias refugiadas e 45 crianças jordanianas não refugiadas, que residem atualmente na Jordânia. Os resultados indicaram que ambos os grupos apresentaram viés no reconhecimento de expressões neutras como tristes, independentemente da saúde mental autorrelatada. No entanto, após uma intervenção baseada na literatura, o reconhecimento facial melhorou no grupo de crianças sírias refugiadas (Michalek et al., 2021).
Amanda Nguyen et al. (2021) realizaram um estudo qualitativo com 10 adolescentes órfãos do sul da Tailândia para compreender sua vida diária e bem-estar. Os adolescentes compartilharam fotos de um dia de suas vidas e participaram de entrevistas sobre as fotos. Os cuidadores dos adolescentes colaboraram com o estudo através da presença discussões de grupo sobre os desafios de cuidar de adolescentes órfãos. Os resultados mostraram que os adolescentes tinham baixas taxas de interação com os cuidadores e níveis moderados de isolamento social. Atividades em família e de lazer foram identificadas como potenciais oportunidades para melhorar as relações entre adolescentes e cuidadores, mas o tempo limitado desses indivíduos foi um desafio.
Guido Veronese et al. (2018) investigaram os riscos a que crianças residentes em três campos de refugiados na Palestina estão expostas. Os autores também examinaram as fontes de agência e o ajuste psíquico ao trauma como fatores de proteção contra a violência política. Para isso, analisaram uma série de desenhos e textos produzidos por 122 crianças palestinas residentes em dois campos de refugiados na Cisjordânia e na Aida, e um na Faixa de Gaza.
Os resultados sugerem que é importante considerar as fontes políticas da violência como um fator de sofrimento para essas crianças. Além disso, é fundamental analisar o ambiente em que elas vivem e se encontram. Os autores defendem que a promoção exclusiva da diminuição dos sintomas não é suficiente, e que é necessário considerar o contexto social e político em que essas crianças estão inseridas para compreender suas experiências e reações ao sofrimento (Veronese et al., 2018).
Marie Brault et al. (2018) examinaram os fatores que se apresentam relacionados à redução da mortalidade infantil dentro da faixa etária dos cinco anos de idade no território da Libéria. O país, por sua vez, apresentou notório sucesso quanto aos seus programas de saúde materna, neonatal e infantil do país após a guerra civil que foi vivenciada em 2003. Os autores concluíram que a priorização nacional dos serviços de saúde materno-infantil, a implementação de pacotes integrados de serviços, a promoção de colaborações intersetoriais e o uso de campanhas de alcance, agentes comunitários de saúde e parteiras tradicionais foram fatores importantes para esse sucesso.
Faz-se evidente que o escopo relacionado ao impacto de guerras e conflitos armados na infância tem se intensificado significativamente desde 2018, e observou-se que uma elevada quantidade de autores responsáveis pelos artigos analisados pertence aos continentes ocidentais, como a Europa e América. Esses dados podem estar fortemente relacionados com o alto nível de imigrantes e refugiados que os países ocidentais receberam durante os últimos anos.
A temática que envolve a imigração e o deslocamento forçado fazem-se extremamente presentes em meio aos artigos selecionados. A busca pelo entendimento do fenômeno da imigração em âmbito mundial ao longo dos últimos anos expõe a tentativa populacional de prestar apoio e solidariedade para os refugiados que enfrentam um complexo leque de desafios envolvendo o luto, abandono e a exposição em massa a estímulos traumáticos.
A realização de pesquisas neste campo assume uma importância fundamental, reconhecendo que o acolhimento e o suporte social desempenham papéis fundamentais na adaptação, estabilização e assistência psicológica especializada aos indivíduos em busca de refúgio e apoio em novas nações.
Portanto, este estudo destaca o profundo impacto biopsicossocial de guerras e conflitos armados no desenvolvimento de crianças e adolescentes, evidenciando a complexidade das experiências traumáticas e suas consequências duradouras. Construímos categorias críticas, como a intersecção entre maternidade e desenvolvimento infantil em contextos de guerra, a importância da resiliência e estratégias de coping durante a adolescência, e o papel vital de intervenções comunitárias e suporte social para a recuperação e bem-estar dessas populações vulneráveis.
Contudo, revelam-se lacunas significativas na pesquisa existente, particularmente na necessidade de estudos longitudinais que acompanhem os efeitos de longo prazo dos conflitos sobre a saúde mental e desenvolvimento infantil. Além disso, devido à limitada quantidade de intervenções voltadas para os fatores de proteção, os jovens imersos nessa vulnerabilidade encontram-se desamparados em ambientes repletos de fatores de risco, onde a guerra se torna seu ambiente de pertencimento à medida que a possibilidade de fuga se torna uma ideia remota. Futuras pesquisas devem, portanto, explorar não apenas as estruturas de suporte existentes, mas também identificar e desenvolver intervenções terapêuticas que possam atender de forma eficaz às necessidades específicas de indivíduos que vivenciaram traumas complexos em cenários de guerra e conflito. Além disso, há uma demanda por abordagens mais integradas que considerem as dimensões culturais e específicas dos contextos dos conflitos. O fortalecimento da base de evidências nesses domínios é essencial para informar políticas públicas eficazes e intervenções direcionadas que possam mitigar os impactos devastadores dos conflitos armados sobre as gerações futuras.
Akgül, Gülendam; Klimstra, Theo & Çok, Figen (2021). The role of coping strategies in interpersonal identity development of war-affected immigrant adolescents. New Directions for Child and Adolescent Development, 2021(176), 103-121. https://doi.org/10.1002/cad.20392
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SOPHIA IVANTES RODRIGUES
Acadêmica do Curso de Psicologia da Unicesumar. Bolsista do Programa de Iniciação Científica PIBIC da Unicesumar.
sophiaivantes@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0008-9967-6049
CAMILA CORTELLETE PEREIRA DA SILVA
Mestre em Promoção da Saúde. Docente do Curso de Psicologia — UNICESUMAR.
camilacortellete@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5065-5556
LEONARDO PESTILLO DE OLIVEIRA
Professor do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do ICETI-Unicesumar. Bolsista de Produtividade PQ2 do CNPq.
leonardo.oliveira@unicesumar.edu.br
https://orcid.org/0000-0001-5278-0676
LUCAS FRANÇA GARCIA
Doutor em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Unicesumar. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do ICETI-Unicesumar.
lucasfgarcia@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5815-6150
FINANCIAMENTO
ICETI-UniCESUMAR
FORMATO DE CITACIÓN
Ivantes-Rodrigues, Sophia; da Silva, Camila Cortellete Pereira; de Oliveira, Leonar-do Pestillo & Garcia, Lucas França (2024). Crescendo em meio à adversidade: uma revisão integrativa sobre crianças em zonas de conflito armado. Quaderns de Psico-logia, 26(2), e2100. https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2100
HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 31-10-2023
1ª revisión: 06-04-2024
Aceptado: 09-04-2024
Publicado: 01-08-2024
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1 BVS: https://bvsalud.org/
2 PUBMED/Medlin: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/
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6 Transtorno de Défict de Atenção e Hiperatividade (TDAH)